sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

2011

Meu individualismo tem um lado virado para os outros, o outro é só para mim. Na verdade, preciso muito respirar, é biológico; preciso de perspectiva, é físico. Terei de treinar mais a acrobacia, o jogo de cintura, a escalada da montanha, a respiração pausada. 
Agora vou ali até Montargil passar o ano e apanhar ar. 
Desejo a todos um bom 2011. Inspirem bem. É meio caminho. 

Separados à nascensa

                                                                                                                         

Roberto Palomar, jornalista redactor chefe da Marca.


John Gotti Jr. gangster ex-chefe da família Gambino.


O primeiro ainda não usa óculos, de resto, onde é que eles se haviam de encontrar...

Totobola



Depois deste revoltante e complicado 2010, temos prontinho um ameaçador 2011. Todos falamos em crise, é o dado inevitável, as cartas sobre mesa. É o que já está, dizem que vai piorar, não se sabe até quando. À falta de melhoras, as apostas para 2011 ramificam-se em três partes. Tipo totobola: 1 x 2.

1 - A mesmisse, melhor representada neste post de Henrique Fialho. Tão solidamente previsível que até enerva. Eu acho que me vou divertir à grande quando for para conferir. 
2 - O tumulto. Pega numa Europa revoltada e a fazer barulho. Fala em explosão iminente. Em pessoas fartas que culpam os políticos e os banqueiros pelo estado a que isto chegou. Fala no perigo das multidões, e no que aconteceu na Bósnia
X - Um misto das duas. Mesmisse com solavancos de revolta. Tudo empatado pois. 

A chave 1 é de longe a que tem mais hipóteses, joga em casa: no país dos brandos costumes, das falinhas mansas, das conveniências, do "parece mal" e ainda por cima, tem consigo a tradição cinquentenária das saudades da crise

quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

Miyamoto Musashi





Voar entre galhos é um instinto de defesa. Sólido elegante implacável, eis o aço. Forte ágil compacto, imóvel resistente a furacões e tremores de terra. Também à prova de água e da crueldade silenciosa que se apodera do silêncio da noite dos telhados. O aço, que da minúcia dos anos, forma o sabre do samurai. No entanto foi o vento sobre os galhos a aprendizagem do maior guerreiro da História do Japão. O sabre, esse, era de madeira.

quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Natal


Desde que o Natal sirva para as pessoas estarem juntas, reverem-se, matarem saudades, partilharem histórias, aconchegarem-se no quentinho, conversarem muito, comerem e beberem melhor. Fazerem uma paragem, uma pausa, poderem -  nem que apenas de raspão - sentir a paz das coisas essenciais, com o acrescento das crianças adorarem e sentirem-se únicas, então o Natal vale a pena. 
Claro que grande parte do festim é feito de hipocrisias de quem se detesta enquanto deseja Boas Festas, de conversas estéreis, de secas e conveniências de praxe, do ter de ser, do ter de mostrar... E o pior de tudo, o consumismo desenfreado que nada tem de natalício. Mas até aí o problema está nas pessoas, não culpem o Natal. 

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Wikileaks



Quando, à tua beira, houver um perseguido
e o escárnio se abater sobre o que ele pensa
e o mundo inteiro o perseguir mentindo
uma mentira maior que a dessa ideia, 
defende-a como tua antes que o mundo
esmague em si próprio a chama em que se ateia.

Jorge de Sena

domingo, 12 de dezembro de 2010

Autonomias




Da recente polémica sobre os Açores tenho mais dúvidas que opinião formada. Parece-me óbvio, claro, cristalino, que deva haver um mínimo de equidade quando se trata ir ao bolso do contribuinte. Questão de bom senso. Mas se desato a pensar naquilo já vi, transformo logo as minhas certezas em reservas. Conheço os Açores, onde estive cinco vezes. Devo dizer que nunca conheci terra tão esquecida e ignorada pelo seu próprio país. Só indo mesmo lá - local do mais belo de tudo o que existe - se pode ter a real noção dos custos da insularidade, do isolamento que é estar em minúsculas ilhas a meio do oceano, com perspectivas de voos a 250 euros para Lisboa; ou entre ilhas, a um "módico" preço de 100 euros percurso. Preço médio, vai aumentando à medida que os lugares se vendem. Dos barcos, não sei preços nem frequência. Mas levam tempo. Tirando o canal entre o Faial e o Pico, que é relativamente rápido, nos outros percursos perde-se o dia. Ou os dias.
Daí talvez se compreenda que existam palavras exclusivas para cada ilha, e sotaques distintos. Ou que por exemplo um terceirense tenha menos de temperamento de um habitante de São Miguel, que um tripeiro de um alfacinha, sem ponta de exagero. De resto, a autonomia do arquipélago não é tão perfeita como se quer pintar. Ou será uma autonomia um pouco para o maquilhado. O açoreano queixa-se muito da incompreensão, da morosidade nas decisões, das burocracias, do ter tudo de passar por Lisboa. De um país que acha que lá está sempre mau tempo, e que dos Açores apenas se lembra nas Agências de Viagem, nos noticiários de catástrofes, ou quando a porca torce o rabo e Cavaco se preocupa com o novo Estatuto dos Açores, ou quando o seu presidente eleito - com segundas intenções ou não -  se lembra de dizer meus amigos as coisas não são bem assim. Depois é ver o mundo inteiro a acusá-los de falta de solidariedade. Ou coisas piores.
Eu pessoalmente gosto muito de ver as peças do jogo encaixarem umas nas outras. Alberto João Jardim a não achar muita graça à inesperada concorrência de Carlos César, algo de tão previsível quanto comovedor. Pudera, ele, o mais gigante sorvedouro do pobre Estado português; ele, o mais estridente demagogo da História da Terceira Republica; ele, o maior populista e anti-democrata de toda a nossa Democracia. Ele, logo ele, há de querer aqui correr riscos? Negócios são negócios, um cêntimo é um cêntimo (como diria Joe Berardo, outro "benemérito" madeirense), portanto, toca de se pôr ao lado do "Continente" (leia-se dinheiro) e dizer mata para esfolar mais um bocadinho os vizinhos da sua tão cara "autonomia". Também é bom ver lembrado que os açoreanos são tão portugueses como nós, os continentais, é que já houve vezes em que me esqueci disso... 

102



O ano passado registei 101. Mais os dois filmes por ano. Nunca tem falhado. Para o ano serão 103. E possivelmente os tais dois filmes. Nunca tem falhado. Parabéns Manoel de Oliveira. Nunca tem falhado.

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Questões de regime



Apanhando a deixa, devo dizer que me faz bem ver "No Reservations", faz-me mesmo bem ver aquilo. Faz-me bem por todo aquele desassombro, inteligência e adrenalina que me enche as medidas para os píncaros da euforia. Um pouco como ver "Good Fellas", ler um livro de Bukowski, ouvir o "Exile On Main Street" ou ver o meu Sporting esmagar. E não há médico que possa receitar estas coisas. 

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Notas de um Facebook


O Facebook pegou de estaca por ser a rede social que melhor (se) encaixa na vida web 2.0. Daí ergueu uma fortuna colossal, um império incontestável, e o comando do futuro para as próximas décadas. Agora, com a nova e detestável configuração mudam-se mais uma vez as regras do jogo. As pessoas bem podem protestar, piar alto e mandar vir, que depois, como dizia o outro, "habituem-se". Para mim ficou mais piroso, mais ligado à trivialidadezinha, à lamechice dos "interesses comuns" e conversas do passado; a fotos e recuerdos escarrapachados e sem escape possível;  e à vida profissional também, para impedir que redes como o Linkedin sequer pensem em crescer, quanto mais em upgrades "desagradáveis"... É tramado. 
Mas o que causa mais espécie não é isso. Devo aqui dizer que sou mais adepto do Facebook dos desconhecidos - gente interessante que a brincar anda aqui a sério e vice-versa  - ter aquilo só para família, amigos e conhecidos de vista roça o tédio, não que elas e eles sejam entendiantes, pelo contrário, mas onde anda o sal? Voltando ao assunto, o que me causa mais espécie ali é também uma das coisas que me causa mais espécie cá fora: o mau fingimento, o de quem não sabe mas quer à força mostrar que domina, então se o assunto marca a agenda, o que tem de ser tem muita força, para parecer bem... Claro que isso pede certos requintes. E depois há sempre aqueles dispositivos tocantes do sujeito que tem tudo pronto e programado para dizer A) quando é C) e arranjar uma alternativa a B1) se  Beltrano disser Q), ou então fingir que não sabe o J) e depois se Sicrano disser o Z) vai dar um ar de surpresa e exclamar "ai é não sabia". 
No Facebook existe uma maior mediação do que cá fora, como é óbvio. Mas de vez em quando oferece-me espectáculos assim, comoventes. Foi o que aconteceu ontem, ao comentar um dos assuntos políticos em voga e que não vem ao caso. Dei um comentário espontâneo de camaradagem, praticamente esquecido pouco depois, até daí a três horas me ser lembrado de consultar o meu e-mail. Estava lá a resposta. E que resposta: comentário longo, cheio de meandros, de cálculos coiso e tal, clichés meia tijela, barroquices numa de soar bem, não fossem borrifar aquilo tudo. E eu pergunto-me: para quê? Ou pior, para quem? Era um amigo da vida real. Não me acho mau nem mesquinho mas a pretensão mal amanhada ultrapassa-me. Apeteceu-me logo pegar o telemóvel e dizer-lhe ouve lá qual é a tua, mas vendo melhor agora, acho que fiz bem em deixá-lo a achar-se, nas conformidades...
Voltando atrás, começo por vezes a preferir amigos virtuais reais a amigos reais virtuais. É que tendem a ser mais autênticos do que muitos que a geografia e a vidinha deram a conhecer... 

sábado, 4 de dezembro de 2010

Nada é nada ainda



Andei a adiar a vida e a confiar na sorte. Na sorte da segurança. Uma gaiola bonita, aberta, com várias perspectivas de vista. E uma porta para sair, apanhar ar e regressar. Ponto de apoio, de sobrevivências, do gozo de viver, dos livros, dos PC's, filmes, de estaminés, de sofá. Mas ainda assim, uma metáfora de uma gaiola. O medo do falhanço, do aniquilamento, do logro. De animais de rapina maiores ou talvez não. A falta de confiança, o excesso de confiança, o regresso à gaiola. Depois o tempo urge o tempo. E tudo continua na mesma: nada parece o que é.
Penso num poema ZEN onde se fala na montanha que deixa de ser montanha para no final voltar a ser "a montanha". Procuro esse poema. Não o encontro. Talvez o traga o tempo, porque na verdade não há montanha ainda. Ainda. Ou talvez nunca. A minha Lisboa é que é ainda e cada vez a Lisboa dos "serões habituais, as conversas sempre iguais, os horóscopos e os signos ascendentes...": campo de batalha, cidade de pouco e de nada; gare de partidas e chegadas onde se pode ver o rio e beber uma cerveja...
Agora estou na varanda e por cima da ponte o céu combina com um avião em rota de aterragem. O Tejo segue o seu curso. Ainda nada é nada ainda.

Impermeável


sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Notícias do saque



Pedro Lains: "Tributar esses dividendos em 2010 dá desconfiança aos mercados? Mas estamos onde? E isto não é uma crise com cortes do rendimento disponível que deverão chegar, em média, talvez a uns 4-5% do mesmo? Vivemos em que época? Claro que o PS e o governo estão reféns de quem estão. Assim como o PSD. Quando se vão libertar? Precisam das empresas para financiar as campanhas? Não, felizmente estamos na Europa. Então precisam delas para quê? Respeitinho a mais é negativo, mostra coisas menos positivas. Ao mesmo tempo não vão aumentar o salário mínimo? Isto não é um debate sobre economia, é sobre decência."

Eduardo Pitta: "Obama mudou alguma coisa? Timothy Geithner, secretário do Tesouro, não dispensa o conselho de Henry Paulson e outros tenores da Goldman Sachs que cavaram o buraco. Ben Bernanke continua presidente da Reserva Federal. Alan Greenspan goza uma reforma dourada nos Hamptons. Ao pé deles, Madoff é um carteirista do metro."

Henrique Fialho: "O trabalho salva, diziam os nazis aos judeus em campo de concentração. O trabalho salva, repetem os governos aos seus escravos de trazer por casa em campo de centralização. E as vozes fazem-se ouvir da sua cavernosa dívida, têm um compromisso com a saúde dos mercados, não necessariamente com as pessoas, porque isso de viver e de se estar vivo é secundário, o que importa é manter os mercados saudáveis, evitar rupturas sistémicas, garantir os stocks."

Tiago Mota Saraiva: "Os mesmos deputados que chumbaram a proposta de tributação dos dividendos das grandes empresas por rejeitarem alterações de tributação a meio do ano fiscal, preparam-se para, depois de o terem utilizado como bandeira eleitoral, baixar unilateralmente o salário mínimo contratualizado para 2011."

Fernando Martins: "Por causa disto, mas podiam ser muitas outras coisas, estou sempre a lembrar-me que há uma direita portuguesa (e também uma esquerda moderna) que gosta de ser sistematicamente encornada pelos chamados, umas vezes bem outras mal, "grandes interesses económicos".

Vasco Lobo XavierSão tantas as empresas públicas que gravitam na órbita do Governo que eu me pergunto: e o Governo, serve para quê?"


Foto tirada daqui.



Hüsker Düplo



quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

O Deus de Norman Mailer



terça-feira, 30 de novembro de 2010

Um saque de corsários


Desde que se soube que o OE 2011 já não escapava, que o mar tem andado mais agitado que o normal. Não ando para aqui com teorias da conspiração, que detesto aliás, mas reparo que há umas semanas atrás havia menos turbulência. Serei só eu? Registo apenas.

1 - Que a montanha pariu um rato.
2 - Outros sociopatas.
3 - Mais poder para os bufos desta vida.
4 - Isto hoje

Outros sei que estão bem e recomendam-se. 

1 - Uns diz que trabalham bem.
2 - Outros melhor ainda.
3 - Outros são os donos do cofre.

Entretanto, enquanto não somos suficientemente competitivos, e com cortes tão radicais a ser feitos, o português comum ganha menos 55% do que a média europeia, e - como as pessoas pouco produzem... - seus gestores mais 55% que os suecos e 23% que os norte-americanos. Ou um CEO como António Mexia ganha mais que Steve Jobs, com o trabalho ímpar de liderar uma empresa em monopólio com a electricidade mais cara da Europa. É obra.
Nem vou falar nos salários dos administradores da Caixa ou do BCP. Fico-me pelos 4000 milhões de euros gastos do Estado para cobrir o caso (de polícia) BPN. Tudo vale a pena para encher Galeões de Corsários.

sábado, 20 de novembro de 2010

Inglês Técnico




A começar pelo vídeo apanhado no Facebook, depois pelo kraftwerkiano brilho do Tolan, até acabar finalmente em Barack Obama "your english is much better than my portuguese"; enfim, já consigo entender mais de inglês técnico...

domingo, 14 de novembro de 2010

Notas de um Google Reader (III)




Descobri ontem estes números "blogosféricos".

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E sou de poucas paciências...

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Estrada dos Prazeres


Os acasos, vontades e incómodos da vida sempre me mantiveram em Campo de Ourique, lugar que é mesmo minha casa, onde andei na escola, onde fiz a base, onde deu para quase tudo. Vivi três anos no Lumiar e gostei, mas depois voltei para aqui. Podia lá ter ficado que não me importava, gostava da vida que lá tinha, da namorada, do Gin que era (e é) o cão da (ex) namorada  e de poder ir para o Estádio de Alvalade a pé.
Mas voltei, primeiro para um apartamento do pior que há na Saraiva de Carvalho, cheio de incómodos surreais que agora dão algum gozo lembrar, mas que na altura não tinham graça nenhuma. Agora vivo na Estrada dos Prazeres, mesmo em frente ao cemitério. Não me importo nada de viver em frente a mortos, tenho muito mais medo dos vivos. E este até é o melhor lugar para se viver neste bairro. Continua ao lado de tudo, mas com muita calma e silencio aos fins de semana. Não tem as famílias inteiras com as pessoas entra-café-sai-entra-supermercado-sai que apinham Campo de Ourique enquanto se tropeça e com licença. É o melhor lugar agora, mas nos anos 90 era o pior. João Soares a presidente da CML tirou o "holocausto" daqui. Se eu de noite, no centro do bairro, via de uns 10 em 10 minutos um junkie a passar na direcção do Casal Ventoso, podem vocês imaginar o que seria aqui, onde por fim se dá com a Meia Laranja. Se em 10 ruas a cadência eram dez minutos, aqui as cadências fizeram que com que até hoje tenha sido proibido um trinco na porta deste prédio. Nem preciso de dizer porquê.
João  Soares prometeu acabar com as barracas do Casal Ventoso e foi o que fez. Acabou mesmo. Foi a única vez na minha vida que vi um político a cumprir o prometido. De resto, enquanto o chiqueiro se vai a acumulando na Lisboa mais porca da minha vida, o movimento da Meia Laranja vai aumentando em surdina. Agora dá-me para apanhar ali o autocarro num exercício com requintes de auto flagelação. É tiro e queda. Cruzo a esquina, dizem-me que têm "castanha" e "branca" da boa, não faço caso e sigo para a paragem a cinco metros. Eles também, mas num vai e vem, para trás e para a frente. Atrofiados. Mal cheirosos. Acabados. Uga uga anda aí a bófia. E eu, impaciente em sair daquele simulacro de inferno, olho no céu um avião minúsculo pelo voo alto a sair de Lisboa. Seria mais fácil ganhar o euro milhões do que algum deles poder encontrar naquele avião uma simples metáfora de sobrevivência. Voar bem alto para fora daquilo. Como João Soares ao conseguir acabar com o pior lugar do século XX lisboeta, se bem que há cautela seja  melhor continuar-se a fechar o trinco.

Ligação Indirecta

    
Um grande obrigado ao Delito de Opinião.  


domingo, 7 de novembro de 2010

Bukowski em português


  
Eis o que me faltava  ler do alter ego Henry Chinaski. O Tolan e o AMC já tinham dado a boa nova: "Ham On Rye " - ou se quiserem, "Pão com Fiambre"-  chega finalmente e com a tradução de Manuel A. Domingos, que faz também o enorme favor de nos oferecer  de borla e em bom português, a poesia de Charles Bukowski. Que seja apenas mais um começo.

sábado, 6 de novembro de 2010

conta-corrente



Escrita a primeira versão de um conto policial que me levou meses, avanço agora para a segunda - gosto do anglo-saxónico 2 nd draft - se bem que com a angústia de uma semana tensa e pesada nestes ombros doridos. Se por falta de jeito, este tipo de angústia acaba-me sempre em escrita débil e disforme, por outro lado não me apetece agora pegar  naquele matagal de gralhas, erros, buracos, frases, parágrafos. Demais e de menos, não sem um mínimo de "comprimento de onda". 
O silêncio esse, na melhor das hipóteses, dar-me à o som das madeiras que estalam ou de um carro ou outro na rua. Também não me apetecem distracções. Sem vontade para os livros que leio hoje, com todos os outros de acrescento, entre os quais uma pilha vinda da biblioteca do meu avô - se quiser, é literatura para os próximos três anos de crise. Menos pachorra ainda para o resto de todo um manancial que me cerca o estaminé. Entretenimento  agora é como café em cima de cerveja. Experimento então ao acaso pegar nos espantosos diários "Conta Corrente", de Vergílio Ferreira. Apanho-me a 15 de Março de 1973: "Só se pode mesmo escrever sobre uma chatice, se abrirmos um intervalo entre ela e nós. Mas não quando ela ocupa o intervalo todo. E o que em nós poderia abri-lo." E depois, a rematar: "A força do que se impõe não vence o que se lhe opõe? Será mentira tudo o que dissemos para isso não ser mais forte que o que nos magoa e é "inferior"?" Do mal o menos... 

domingo, 24 de outubro de 2010

De uma américa profunda



Não me recordo de onde vinha até subscrever isto. Seria até desnecessário tentar. Tal como gosto de me perder em ruas que não conheço - então se for nalguma cidade estranha melhor, no estrangeiro melhor ainda... - também me agrada desaparecer pelo caos da net, ir pela (des)ordem do aleatório dar a lugares que de outra forma dificilmente conheceria. O canal You Tube just plain fred's é um deles. De um senhor chamado Fred, suposto bluesman em modo de hobby, de câmara fixa defronte, tocando, solando e cantando com o acompanhamento de uma caixa de percussões, ou de vez em quando apenas em modo acústico.
Leiam o texto de apresentação do homem e vêem que não é parvo nenhum, pensa pelas suas ideias , completamente nas tintas para o que vocês e eu achemos disso. Não está ali para ganhar dinheiro, quer divertir-se a si e aos outros, quer feedback, quer o mundo a ver concertos na sua sala de estar. É legitimo. Tem também lá adicionadas gajas sexys. Groupies virtuais que também dão músicas.
A maioria das canções do canal é ele que as escreve, quando sai uma nova envia mensagens aos "amigos" (eu supostamente sou um deles e olhem que o homem está atento ao que ponho nos meus Favoritos) a dar a notícia. Depois quem quiser que as oiça. Há lá coisas boas, outras razoáveis, outras dispensáveis, outras sofríveis. O que fica é que interessa.

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

E a excepção confirma as regras...


De um ou outro foguete, da fome do corta a direito, e da fome que para aí anda, nada continua a impedir que eminências ex-governantes deixem de mandar suas glamorosas saraivadas contra o despesismo do Estado. Tanta é a vontade de um poleiro que até a excepção confirma as regras. Se isto é o espelho deste país, então estamos mais tramados ainda, pois há quem confunda mamões com conselheiros. Não sei se está para chegar o dia em que se mande o povo comer brioches outra vez. Mas tenho a impressão que já faltou mais.

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Mad Men




Parece-me redundante dizer que tudo em "Mad Men" é trabalhado ao mais ínfimo pormenor: o plot, os actores, a fotografia, a realização (cinematográfica), o guarda-roupa, sobretudo os diálogos - cortados ao osso, muitas vezes em tons de pura comédia, mesmo nos assuntos mais graves, abrindo caminhos com extremo vigor narrativo, surpreendendo-nos por vezes com as suas segundas e terceiras intenções...
O mais interessante porém, para além da acção, é o caldo cultural onde "Mad Men" existe. As temáticas do machismo, do sexismo, a emancipação da mulher, o sonho americano, os corporativismos vários, o anti-semitismo, a Guerra Fria, o racismo, em suma, todo um tabuleiro cultural que abre a década 60. É politicamente incorrecto, mas ao mesmo tempo refrescante ver ali aqueles personagens todo o dia a fumarem e a beber como se não houvesse amanhã. O individualismo é o mote, o único ponto comum entre tudo, ninguém ali joga em conjunto se não for do seu próprio interesse. O individuo é que conta, na sua relação com um mundo predador onde tem de caçar, para não ser ele mesmo a presa. No big deal. É por aqui que se abrem as brechas da acção e todas as suas possibilidades. Não são feitos julgamentos. As coisas ficam a pairar e não têm de ser necessariamente objectivas. O criador Matthew Weiner e demais equipa não tentam ser moralistas. Limitam-se sim a explorar todas as potencialidades de um meio que é neste momento muito mais rico e estimulante que a esmagadora maioria do cinema. O que mais interessa  em "Mad Men" é a excelência da forma. O estilo. E "Mad Men" tem muito estilo, é top notch.
O protagonista mor, o inesquecível Don Draper, é a base e o topo. É ele que acompanhamos dia e noite. É ele que tentamos compreender no seu mistério, muito para lá do imaginável naquele mundo de aparências. Também porque ele próprio é uma aparência. E vendo bem, tem toda a legitimidade para ser quem é na vida e no topo da Sterling Cooper. Quem não conheça a série, não pode ter  bem a noção do que acabei de escrever. Porque além de todo o recheio a acompanhar, não sabe o que é verdadeiramente o bolo...

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Notas de um Google Reader (II)


Do crivo do Google Reader sobressaem mais dois defeitos da blogosfera: o golpe de asa sem voo e as meras notinhas vazias de tudo, que em forma de post, nos fazem perder o nosso precioso tempo. É uma irritação minha, mais de hoje do que há uns anos. Não consigo suportar da mesma maneira tanto malabarismo de atitude pretensiosa, tanto vazio a tentar suar a statement. Muita vaidade e cálculo são necessários para isso, por aí tenho de tirar o meu chapéu...
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domingo, 10 de outubro de 2010

Notas de um Google Reader



Sou relativamente rigoroso em subscrições, mesmo tendo em conta que tenho quase 200 blogues adicionados ao meu Google Reader. Não serão mais por mera gestão de tempo e interesses. Pelo menos 30 leio regularmente e haverá uns 10 que têm de ser lidos todos os dias, pela parte da urgência, e do vício...
Como bem diz o grande MEC, os blogues são do melhor que Portugal tem. Blogues de tudo: idiossincráticos (os melhores entre todos...), políticos, literários, desportivos, económicos, regionais, futeboleiros, sportinguistas, culinários, fotográficos...Só aqui e agora estarão centenas a merecer desde já a espreitadela. Do passado teremos pelo menos o triplo, e em seis/sete anos de existência já se poderia escrever uma História da Blogosfera Portuguesa, várias Histórias de Blogosferas Portuguesas... Sendo uma impossibilidade conseguir emergir em tal abismo de subjectividade, a verdade é que a nossa bloga tem muitas e boas historias a ser editadas. 



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quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Zé Povinho 2.0



A comemoração do Centenário da República deu-me outra vez para medir o pulso ao tuga típico, sempre queixinhas do seu "país de merda", e da "culpa toda dos políticos" corruptos e incapazes. Veio ter a mim, qual Zé Povinho 2.0, em comentários anónimos dos blogues e dixotes incendiários no Facebook, aí entre as actualizações dos jogos das casas e das quintas, até porque este, tal como o de Bordalo Pinheiro, enquanto vai dizendo de sua justiça, quer mais é que não lhe chateiem a vida.
O seu péssimo português: erros ortográficos constantes, gramática a coxear, entoação analfabruta, tudo ajuda a caricatura. As carradas de sobranceria e ignorância grosseira tornam-no num espécimen mais apetecível ainda - incapaz de perceber que é o maior aliado daqueles que execra. Que não passa dum barbarete, dum inofensivo Zé Povinho versão Século XXI, agora também com grau de mestrado...