terça-feira, 19 de abril de 2016

51.

- Fez um teste de resistência ao meio. Por ali mesmo passou-lhe a lâmina. 

- Dormindo com todas as mulheres só se sentia a dormir com ela. Quando dormisse com ela, dormiria com todas as mulheres. 

- Não sou eu sem o meu poncho dos Andes, esse cachecol, só me serve em casa.

- Não entro nesses meandros, nessa sopa de algas, nem quero saber se faz bem à pele.

- É do jazz, sou do cinema. 

- Pegar num livro e chegar de imediato ao lugar exacto onde se devia estar. Nada há de tão mais divertidíssimo. 

- Ter o mapa inteiro, as coordenadas... Tudo descoordenado.

- Seu texto está cheio de equívocos. Como se a latrina fosse a lotaria... 

- Teu poema queimou-me as superfícies certas. Laser sobre a ferida, salvo (o) erro...

- Sou daqueles que acredita que todo o lodo é batota. 

- Lá porque não se gosta de ouvir não quer dizer que tenha de ficar calado a vida inteira.

- Jesus Cristo Júlio César Augusto Marco António Cleópatra Bonaparte Cláudio Constantino Buda?

- Muito obrigado, Miguel-Manso. Muito obrigado, António Poppe. 

- Deixar de ter de depender não é deixar de depender...

quarta-feira, 6 de abril de 2016

50.

Sou muito fácil de encontrar, mas não venham ter comigo. Três quarteirões seguindo pelo acaso até parar três horas mais tarde - três pessoas em conversa - a concluir que nada havia ao acaso. Pior mesmo foi saber o que se perdeu no (teu) incêndio no Chiado. Duzentos e tantos metros quadrados por um T2 (ou era T1?) na Zona J - e sabias lá tu o que era a Zona J, suponho que ninguém sabia, da minha parte só tomei conhecimento uns quinze anos depois... Infância, Agosto, férias em Vila Nova de Milfontes, aparvalhado e combalido pelo choque - nunca tinha visto nada a arder, e logo o Chiado... No dia seguinte estaria nos jornais, no próprio dia fomos ao café ver o telejornal. Tu estavas de viagem  para o Algarve até que deste meia volta à chegada. Ainda não havia telemóveis, internet, essa coisa da cidadania onde já não sei se hei de meter aspas ou não. Pela descrição que deste se calhar até o Julian Schnabel ficaria maluco pelo teu ex-espaço. Mas indo ao Abecassis da questão, isso da cidadania, meu caro, pelo menos como a entendemos... Quantos é que eram mesmo? Os traumas pegam-se, amigo. Ia escrever - ou à melhor, no caderno antes de ser passado a computador vinha escrito - os traumas pagam-se. Deixa(r) arder. Pensar no fogo criador quando já não há nada a fazer. Que a humanidade mal existia na Idade do Gelo. Vou fazer como tu, agora que perdi a confiança. Sim, no que tantos encontram um privilégio, perdi completamente a mão. Mas eis que tu e a tua especialíssima cara metade  - deu para ver, perfeitamente para perceber, intuo-te a tanta sorte - inspiraram-me. Por enquanto vou apanhando alguns bocados daquilo que para os afortunados são pequenas coisas e para o habitante da Serra Leoa um sonho jamais realizável: um Bacalhau à Brás no dia seguinte, um texto espantoso no facebook de alguém a quem prometi mostrar o meu bisavô versus Sidónio Pais. Scanning directo à carótida, acredita. Enfim, no caderno lia escrito à Carbonária, claro que não era, vai na volta, com a minha letra, se calhar era mesmo à coronhada... 

terça-feira, 5 de abril de 2016

49.

E a montanha pariu um rato. As montanhas andam sempre a parir ratos. Parecendo que não ando desde quarta-feira a tentar mas ainda não cheguei sequer ao pedal da embraiagem. É noite-após-noite-após-noite. Atrás-atrás-atrás-atrás-atrás... Nada. Acha-se um piadão ser fantasma. Esconde-esconde-esconde pede (é) tudo o que não sou. Truz-truz-truz não e não e não. É da cartilha, a vencedora, conhece-se mas não se conhece... Ou à melhor, ou melhor, a partir do momento em que desaparece toda a vantagem nesse ponto de Lisboa onde a ravina se prepara para inclinar à séria... Enfim, é de ir pela boca do rio. Isto até ao Terramoto - mas adiante, é só um parêntese. 
Mas voltando ao fantasma - já que não te apanho (a) forma (alguma) de forma alguma -, a mim lembra certa vez em Sintra a rirmos que nem uns perdidos nesse Estágio de Verão de Aikido. Tanta prática, prática, prática, o físico ao limite do espírito, o espírito ao limite do físico, horizontes carregados de verdade, verdade carregada de horizontes, sempre a furar, sempre a furar, incessantemente, a ultrapassar... Depois, no fim, relaxados até mais não, endorfina (à) solta, já íamos de noite bem jantada, epá, qual é a cor do teu cinto? O meu sinto é pardo, e o teu? Pardo? Então o meu também é pardo. Óbvio que é pardo. De noite todos os cintos são pardos ah-ah-ah... Não tem piada? Entendo, é precisa muita endorfina para lá chegar, só mesmo de turbo accionado à horas. Mas ficou bela a definição. Tão sublime que desde aí me acompanha, até hoje. Graduação? Sou pardo, não insistas.