segunda-feira, 29 de janeiro de 2018

102.


Há esse Estádio na Pedreira de Braga, arquitectado por Souto Moura
Pressente no futuro além da cidade 
Dirige-se de um passado cantábrico
Podemos ver bem detrás desse fotograma
Um corpo habita sua mecânica
A cada milímetro, milénio 
assalta a grama. 
Pode ir de Vertov a Brésson 
Philip K. Dick
Rima a Edgar Pêra
No que entretanto é Covadonga. 

101.



Estádio Municipal de Braga (ou Estádio AXA, se quiserem), 2017





Capa, ilustração e paginação Rui A. Pereira, Letras Paralelas

Nas livrarias:  

Círculo das Letras - Rua da Voz do Operário, 62

Biblos Clube de Lectores - Lugar Quinta, 8, 15391 Cesuras, A Coruña

Encomendas para gn.pedro@gmail.com


101.



SAUDADES DE LISBOA

1.
Saudades tantas saudades pujantes
Faria já mais de 500 quilómetros
Só para ver Lisboa
Amanhecer

2.
Mas não é a ti que vou atender
Não, quando estou em Lisboa 
Não quero o meu tempo patrulhado pela minha ausência 
Preciso travar contas com a cidade

3.
Eu naquela dor aquela casa
Era toda esta amargura que sinto agora
Era o sofrer que já sofria
O futuro a pairar a ver-me 
Perder em negrura

4.
É por isso que as saudades remetem a outra zona da cidade
Trazem-me o rio e as ruas que sobem 
Montanhosa ribeirinhas
Como só Lisboa sabe ser

6.
Era o que era: destruir sempre
Para sempre poder começar de novo

7.
Mas quando tu me tocas eu sinto o sentido inteiro que é 
Agora

100.

1.
Japanese Breakfast não resulta no carro. Lloyd Cole sim. Lloyd Cole resulta mais que nunca. Dança pelas curvas a levitar o carro em velocidade pelas altitudes de uma tarde de Sol no Inverno bem entrado na Galiza na direcção de Ourense. De resto é o corte. Não saber bem puxar o carro para trás e deixar um ligeiro (íssimo) arranhão na lateral de outro carro. Que desastre! Vale a generosidade do atingido. Um velho senhor galego de olhos compassivos. Deus o abençoe. Não me senti seguro. Nunca me sinto seguro, aliás. Paguei a mensalidade da dívida à Segurança Social. Li o jornal "A Bola". Escrevi para um portal desportivo a crónica (que não é crónica nenhuma) da final da Taça da Liga de ontem. De bola mais tarde vi os últimos dez minutos de um Getafe a satisfazer-me a ânsia de justiça divina pelo que o Sevilla fez a Berizzo. Mas o que sei eu sobre isso? O que sei, claro está, toca num dos meus valores mais caros. E o que não sei não interessa tanto como o que sei. Claro que houve justiça divína, o Betis foi ao Sanchez Pizjuan espetar cinco contra três, bela Getafada. 

2.
Ir a Portugal só para ir ao Pingo Doce. Poderia explicar. Mas dar-me ia um texto muito chato de escrever. De óbvio. De prosaico. Não tenho a culpa que Portugal e Espanha se ignorem olímpicamente. 

3.
Onde é que se encontra hoje grandeza em Portugal? Tenho umas ideias. Ou talvez nem sejam bem ideias. Ou talvez até sejam, não sei. Verdade é que não concluem nada. E só o ter de andar à procura de uma resposta... que encontrei. Claro que encontrei. Dei com dois tipos de grandeza. Uma de tipo heróico; outra de tipo óbvio. 

4.
Quase sinto vergonha de não termos um escritor da estatura de um Javier Marias. E nem nos vamos abismar pelas leituras adentro... 

terça-feira, 16 de janeiro de 2018

99.



NOTAS A PARTIR DE 82 RETRATOS DE DAVID HOCKNEY


A luz de Los Angeles de frente para. A ponta do pincel. Cada 
Toque particular apanhado à primeira 
Diz sempre a luz amiga
E as cores alegres
Claro que o auricular da exposição se limita ao jornalismo
Generaliza o bem, explica como se fosse tudo
Sem dizer nada sobre o que realmente é
Como em cor Kockney respira
A afinidade ou esse preciso onde nasce a cor afecto 
Ao esplêndido o momento azul solarizado
Eléctrico onde não há como nos queimarmos
Ou como se capta a luz do negativo preciso 
Pelo espontâneo do nó mesmo desprendido 
Da leveza com que se recebe
Para nos podermos cristalizar nesse grande afago: o abraço à mistura.


segunda-feira, 15 de janeiro de 2018




Começou no Museu Guggenheim, acabou no Café Bilbau, à Praça Maior; ainda passei na Praça Miguel de Unamuno, e uma ou outra rua do Casco Viejo mas o tempo e o tempo não deram para mais. David Hockney, sobretudo David Hockney, mas também Robert Rauschenberg, Damián Ortega, Anselm Kiefer, Richard Long ou Richard Serra ao magnífico encontro do Guggenheim não deram espaço. Tivesse seguido minha intuição, aproveitando o sol a abençoar a manhã, enfim, guardava para o dia seguinte e toda aquela chuveirada incessante. Agora sinto-me obrigado a regressar. À cidade que tão bem explica como se consegue juntar Espanha à mítica Euskal Herria, o que nem os romanos conseguiram. Diz que também tem menos fantasmas que grande parte do resto de Euskadi. Por mim falo, vi uns quantos a 23 quilómetros, em Amorebieta, não dei por nenhum em Bilbau.