sábado, 6 de novembro de 2010

conta-corrente



Escrita a primeira versão de um conto policial que me levou meses, avanço agora para a segunda - gosto do anglo-saxónico 2 nd draft - se bem que com a angústia de uma semana tensa e pesada nestes ombros doridos. Se por falta de jeito, este tipo de angústia acaba-me sempre em escrita débil e disforme, por outro lado não me apetece agora pegar  naquele matagal de gralhas, erros, buracos, frases, parágrafos. Demais e de menos, não sem um mínimo de "comprimento de onda". 
O silêncio esse, na melhor das hipóteses, dar-me à o som das madeiras que estalam ou de um carro ou outro na rua. Também não me apetecem distracções. Sem vontade para os livros que leio hoje, com todos os outros de acrescento, entre os quais uma pilha vinda da biblioteca do meu avô - se quiser, é literatura para os próximos três anos de crise. Menos pachorra ainda para o resto de todo um manancial que me cerca o estaminé. Entretenimento  agora é como café em cima de cerveja. Experimento então ao acaso pegar nos espantosos diários "Conta Corrente", de Vergílio Ferreira. Apanho-me a 15 de Março de 1973: "Só se pode mesmo escrever sobre uma chatice, se abrirmos um intervalo entre ela e nós. Mas não quando ela ocupa o intervalo todo. E o que em nós poderia abri-lo." E depois, a rematar: "A força do que se impõe não vence o que se lhe opõe? Será mentira tudo o que dissemos para isso não ser mais forte que o que nos magoa e é "inferior"?" Do mal o menos... 

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