sexta-feira, 21 de agosto de 2020

152.



Melhor guardares o silêncio
Não te expores setas
Ignorando a distância
Recorda que assim nunca te deste mal
De outra maneira partes
Em exílio
Depois em queda
Sê antes tua guarda pretorial
Teus próprios termos
Evita o combate
É a última coisa em que o guerreiro acredita
Falo do samurai, esse Ares nocturno
Ou do mago com os livros e os mapas do outro planeta
Estradas de amor universal
Sol de raízes
Luas para outro sentido
Pensar que abertura queria dizer abertura
Que respeito queria dizer respeito
Pelo reflexo do outro
Veloz como um pensamento.

segunda-feira, 17 de agosto de 2020

151.



Compreendemos tudo isto até um vazio
O caminho do bosque
Até ao próximo
Compreendendo as mulheres
Até ao próximo 
Caminho do mapa
Até ao próximo.

Densidade teve o mistério
Mas não criou nada
Para dentro da terra.

O outro dia
Nunca obra.


quarta-feira, 12 de agosto de 2020

150.


A prova que a 'vida real' é um simulacro da ficção está mesmo nestes tempos, em que a realidade ultrapassa a própria ficção. Não há simulacro que resista. 2020 não é bem um ano, é mais, e sobretudo, um projecto de destruição massiva. 

segunda-feira, 10 de agosto de 2020

149.


Se somos rios –
E temos tanto dos rios
E encontramos tanto nos rios –
Iremos, inevitáveis, dar ao mar
É sempre no mar que inventariamos o infinito
Nos remetemos ao eterno
Desmedido.


Acredito menos na morte
Do que no mar
Seus rios apenas são fios que serpenteiam
O fim. 

quarta-feira, 5 de agosto de 2020

148.



AQUI


Aqui não há falta
Apenas saudade, o que é bom
Se pusermos as coisas ao contrário
Tiras o homem de Lisboa, mas não tiras Lisboa do homem
Vês a luz
Não me encontro em corpo
Mas aqui vejo
Sou visto
Com muito que ver por dentro
São poucas ruas toda a floresta
Mesmo que de vez em quando desapareça 
No calor de uma discussão
Abrindo uma cratera 
De homenagem ao passado.


Ecossistema fora
Do meu drama anterior
Aqui comunico telegraficamente
Os símbolos dão luzes
Menos cadentes.