sábado, 31 de outubro de 2015

40.

Nunca me tentes comandar à distância. Não vale a pena. Não me conheces as leis da física. 

terça-feira, 27 de outubro de 2015

39.


BALA CANHÃO FORÇA

Diz que vai embora
Embora para melhor

Já se esqueceu como era como 
Teve de aprender tudo
Era o pior do pior do refugo
Impossível insegura 
Incapaz
Bala canhão para o olho da rua

Mas não e não e não
Salvei-a do poço aos gritos
Tive de berrar para se desviar das cobras
Ainda meti os braços na água só para o arrancar das piranhas - e arranquei a cabeça às piranhas
Assim mesmo
Lá foi ganhando confiança
Avançando no tempo
Avançando
Avançando tanto 
Avançando
Que já avançada, no tempo
Avançado
Deixou o próprio tempo ultrapassado

Verdade é que se pisgou, nariz empinado
Nem resistiu à tirada excelente 
Desabotoada em pólvora
Desejando-me força.

terça-feira, 6 de outubro de 2015

Personagem

Não foste tu que conseguiste, foi o personagem. Nem foste tu que o fizeste, que disseste, que aconteceste. Foi o personagem. Mas foste tu quem o sofreste na pele, na carne, no osso, nas entranhas. Quem sofre o amor és tu, quem o ama também és tu. Por certo, se levares a tampa quem se aleija também és tu. Agora alcançar, conquistar, quem consegue sempre, sempre e sempre a seu bel prazer não és tu, nunca és tu, é o personagem. Vestes-lhe a pele e então és o super-homem, o faz diz acontece, o diz bem diz mal, o redentor da lenda, o que se apura e trabalha. Apura-se e trabalha-se e mete-te a ti em apuros e trabalhos, que é o que demais te acontece na vida, meteres-te em apuros e trabalhos. Claro que depois és tu quem tem de aguentar, quem arca consequências, quem assume a responsabilidade... O personagem esse não, não está, foi não sei onde. Pirou-se. Puta que pariu. Pum-pum. Sumiu. Ou já o viste tu alguma vez na solidão? Ou quando te sentes assim triste e miserável como estás hoje? Ou quando sofres a bom sofrer do amor e desamor? E na decepção. E na frustração. Não mintas. Onde é que ele anda? Vai lá buscá-lo, vá, encontra-o, pergunta. 

Mas primeiro também deves reconhecer: sem o personagem não ias lá. Não ias lá nem ias a parte nenhuma. Nem a ti próprio ias, quanto mais. Era o ias. Não tinhas a mínima das hipóteses, fugirias do jogo. É muita areia para a tua camioneta, filho. Por mim, até acho que lhe devias dar mais chances... Sair com ele mais vezes. Tentar, ao menos, tentar. Já aguentar é que já não sei... A sofrer dessa maneira... E às tantas as dores e as dores às tantas... Ó pensas tu que é vestir-lhe a pele e o fatinho? Não, a vida não é o teu teatro. 

segunda-feira, 5 de outubro de 2015


- We have a right to set limits. We feel too guilty in Europe -- our multicultural tolerance is the effluent of a bad conscience, of a guilt complex that could cause Europe to perish. The greatest threat to Europe is its inertia, its retreat into a culture of apathy and general relativism. I am dogmatic in that sense. Freedom cannot be sustained without a certain amount of dogmatism. I don't want to cast doubt on everything or question everything. That's why I am also against every form of political correctness, which attempts to control something that should be a part of our moral substance with societal or legal bans.

 - Multiculturalism, with its mutual respect for the sensitivities of the others, no longer works when it gets to this "impossible-à-supporter" stage. Devout Muslims find it impossible to tolerate our blasphemous images and our disrespectful humor, which constitute a part of our freedom. But the West, with its liberal practices, also finds forced marriages or the segregation of women, which are a part of Muslim life, to be intolerable. That's why I, as a Leftist, argue that we need to create our own leading culture.

 - We are attached to our idiosyncrasies. But we have to recognize that the particular is based in a contingency, a happenstance that isn't substantial to the self. Universality is the opening to a radical contingency.

 - Individual hedonism and fundamentalism are mutually driving each other. You can only effectively combat fundamentalism with a new collective project of radical change. And there is nothing trivially hedonistic about that.

 - My answer is to struggle. Empty universality is clearly not enough. The clash of cultures should not be overcome through a feeling of global humanism, but rather through overall solidarity with those struggling within every culture. Our struggle for emancipation should be coupled with the battle against India's caste system and the workers' resistance in China. Everything is dependent on this: the battle for the Palestinians and against anti-Semitism, WikiLeaks and Pussy Riot -- all are part of the same struggle. If not, then we can all just kill ourselves.

Slavoj Žižek, aqui.

sábado, 3 de outubro de 2015

38.

É em Ambulance Blues do soberbo On The Beach que Neil Young tem aquela famosa tirada do mijar contra o vento*. Creio que foi numa sua biografia assim para o sofrível - não nesta auto-biografia recente, que diz que é excelente, e quero ler, mas de uma antiga da Assírio & Alvim - que esse foi género de remoque final à sua geração, à laia de boca a colegas, amigos, companheiros de estrada, certamente alguns dos Buffalo Springfield e Crosby, Stills, Nash & Young, e se escrevo todos é porque o próprio Young não se punha fora da equação. No que rimava um pouco com esse bastante anterior Everybody Knows This Is Nowhere em que contra euforias sessentistas o meu herói queria é voltar para casa e levar mas é as coisas numa de calma, precisamente porque, vá: everybody knows this is nowhere... Ora é assim que eu me sinto. Das duas maneiras. Primeiro a mijar contra o vento, essa é a principal, depois, a querer mas é voltar para casa e tomar as coisas numa de calma, e depois ver um filme e depois escrever aqui uma resenha ao dito cujo, o que me toma tempo que nem imaginam e serve tanto como fazer uma paciência de cartas (paciência) e nem sequer é modalidade em que eu pilote por aí além - às vezes até piloto bastante mal. Mas adiante, tenho saudades. Um homem perde vinte quilos e parece que fica mais novo vinte anos e depois parece (parece não, é) que tem de resolver coisas que não estavam resolvidas lá atrás e seguiram para bingo vida adentro qual aspirina. 

* - You're all just pissing in the wind
     You don't know it but you are
    And there ain't nothing like a friend
    Who can tell you you're just pissing in the wind

sexta-feira, 2 de outubro de 2015

37.


REMO A SUL

Um grilo já se ouve aqui chamando o sul
Antecipando alegria
Antes do sul, antes do grilo
Ainda indefinida
Cá comigo ficavas, suspendia-se a saudade
Parada perdida no Alentejo
Desse dia antes depois do amor 
Que não te atingiu em Lisboa
Agora amena, pacífica, pudera, temos outra vez o grilo
Antecipando o sul, sempre e sempre
A cantilena de sempre do sempre
E não partisse amanhã seria apenas essa estranha passagem
Algo assim entre um azul e um nunca mais...
Digo eu isto agora assim meio perdido - escrevi este esboço de futuro faz quê, três semanas?
Mas agora ganhei esta absoluta verdade telegráfica 
Deste final de Setembro reza o ano de 2015
Escreverei só e apenas que há um antes 
E outro depois
Deixa lá ficar quem eu fui, não te apoquentes
Aliás pouco interessa se morri se sofri...
Até mesmo se renasci, por todas as deusas e todos os deuses
Born again coisa nenhuma
Quando passo apenas de um convertido, mesmo que nada me possa mudar.