quarta-feira, 1 de julho de 2020

137.


O OUTRO EXÍLIO

Fora da sua religião
Fuga de Lisboa
Promessa da Índia
Chegar a uma posição
A conversão ao islamismo
Ou ver Deus de outra maneira
E desenrolar a trama até ao esquecimento
Primeiro mutilado
Depois exilado
Convertendo uma ilha à respiração
Para não voltar a Lisboa de nenhuma maneira
Três décadas
Não era Napoleão
Suportando o peso de milhões de astros
Inventar um arquétipo
Sem orelhas, sem nariz
Sem o glamour dessa futura cópia de Robinson Crusoe
Sem o saber fui beber à fonte em Praia Lontano
Santa Helena com uma paisagem de Stromboli
Quando a verdade é que o lugar era para náufragos
Inventando um presente, implantando um futuro
Ida e volta a Lisboa só para querer voltar
Não reza a história o registo
Da maior solidão que se possa contar
Com um realismo que se alarga à imaginação
Ou esse templo que só mesmo o herói conhece
E não ficou nada escrito
Reservado ao esquecimento, não era mesmo para ter gente
Nem este Fernão Lopes era cronista
Mas explorador de incomensuráveis
No plano do secreto e insondável
No mais solitário e remoto lugar da Terra
De solidão bem povoado.




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