sábado, 1 de setembro de 2018




Uniam-nos os romances de John Le Carré. Agradava-me sobremaneira essa passagem sensível dela, por exemplo, entre a beleza sublime de uma interpretação de Haendel e a alta política pura e dura da espionagem. Não a podendo interpretar musicalmente, surpreendia-se com a minha elaboração na descodificação de enredos. E quanto mais intrincados melhor, ainda me tornava mais elaborado. Até já evitava ler policiais, prudência minha, pudera, sempre tivera medo de me denunciar. Por mais absurdo que possa parecer, não queria deixar a mais pequena ponta solta... Já me chegava quando sentia toda a quantidade de dinheiro que tinha (e ainda terei) a entrar dentro da nossa casa. Só de pensar na batalha que tive de travar comigo até revelar o que realmente se passava... O que era a verdade dentro da verdade… O que era a verdade dentro da mentira… Só o pensar… Acabou por custar menos do que pensava. É que no fundo sabia, Aurora sentia, pressentia, cheirava, a caça eminente, a emergente necessidade de fuga, o meu esconder-me nas mais fundas pedras da minha angústia, até da minha doença, pois adoeci, não era vírus, virose, parasita, bactéria nenhuma.

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