terça-feira, 12 de junho de 2018




Lá o pseudónimo é que não se pode queixar da falta de luz para escrever. Ao menos ainda não me pediu um candeeiro e um aumento e um jantar para falar sobre (os e as) personagens. Da última vez pedia-me mais personagens femininas e eu tive de explicar, José Artur Miguel, ou lá como era, que esta não é uma história linear de mulher-amor-conflito-abismo- -desilusão-redenção, mas que é antes, sim: uma reflexão sobre o poder em Portugal com os seus lugares estanques e sobre a forma como uma vigaricezinha bem montada e internacionalizada tem tudo como dar certo, desde que os cordelinhos estejam bem atados. Então é desatar certos nós, já que é impossível levantar a viga de betão. Mas nunca foi feito nada assim, diz-me, e eu pergunto: «E então e os mob jornalists, o catenaccio da burocracia, o Luís de Freitas Lobo da Cosa Nostra em Filadélfia?». O problema é precisamente o catenaccio, responde-me ele, eu respondo «Vai mas é ver os filmes do Akira Kurosawa para saber se aquilo não é catenaccio. Mas como é que queres fazer um policial com tudo a jogar à defesa, diz ele, e eu: «Quem dera a muitos um detective como Giuseppe Bergomi».   Ele não fica lá muito convencido, mas eu insisto: «Se falhar estás despedido, amigo. Hoje.» O problema é que a dívida ninguém te a tira. Não sei o que fazer. O que pensar. O som nem John Coltrane, nem Dizzy Gillespie. Não há cantautor nenhum que agora me acalme as horas. Músicas de incêndio? Também não, já não ouço The Stooges, ataca o fígado. 

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