quarta-feira, 19 de agosto de 2015




Primeiro o desenho. A forma do desenho. E de desenhar a realidade. A Nova Iorque da Primeira Grande Guerra. As influências são óbvias. Pensamos, por exemplo, no Era Uma Vez na América de Sérgio Leone. A banda sonora grandiloquente bem pode remeter-nos a Ennio Morricone, o que assim como assim, já nos começa a remeter demasiado. James Gray não merece que se apague uma pontinha do seu mérito. Ele é que arrisca a valer, ele é que cria, executa e concebe magistral e superiormente aquele portentoso cinema. De filme para filme, Gray tem vindo a apurar, mesmo que o primeiro Little Odessa tivesse o fulgor extremo de um tiro de partida, longe de ser superado pelos seguintes e muito bons The Yards, We Own The Night, Two Lovers... Mas eis que chega este The Immigrant, quem diria, de longe, a sua obra maior, a obra-prima, o soco no estômago. 
Todos os filmes de Gray são fortes no melodrama e na tragédia, na força do enredo e dos personagens, The Immigrant, contudo, completa-se em si no circulo superior da força que nos esmaga enquanto nos comove. A matéria essa é tão densa que parece impingir-se em número nas próprias moléculas da realidade. A ciência da trama prova, no entanto, que nos limites das piores armadilhas e alçapões é possível, enfim, a redenção. A religião pode ou deve ser para aqui chamada, faz parte da vida.