quarta-feira, 15 de outubro de 2014



Algures no Peru, milhares deles se juntam na praia como numa romaria. No mar, dezenas ou centenas vão para ali saltar acrobacias, quais surfistas sem tábua. Mais também parecem ginastas olímpicos com seus mortais além  da crista da onda. Secção essa excelentemente narrada por Josh Brolin para a série documental Untamed Americas, que gravei há uns tempos ao acaso e é uma maravilha que não sei bem ainda como classificar, a não ser que dá no canal National Geographic. O que mais nos maravilha ali é a ideia, o rigor, a tenacidade que se sente em todo um trabalho de transposição de uma realidade instantânea e irrepetível, capacidade essa de não apenas dar a ver - o que faz toda a diferença - a mesma Natureza em seus enredos que amiúde repetidos acabam por aborrecer o leigo que apenas constata que as espécies existem. Género quem vê um vê muitos* .
Apanhando de tudo um pouco ao longo de todo um continente de norte a sul - do Alasca à Patagónia - tanto faz que seja ordenada ou aleatória a forma como é apresentada cada espécie ou situação dentro da temática de cada um dos quatro episódios: Montanhas, Costas, Desertos, Florestas. 
Uma banda sonora de reminiscências cinematograficas (a fazer lembrar o Paris/Texas ou qualquer road-movie que se preze) seguida pela sentida e impressiva narração de Brolin através de um texto que em sua verdade, metáfora, timbre e imagética consegue em cheio fundir ideia com presença. Ora é precisamente o que se vê que acaba de servir como mote. Cada sujeito, cada assunto, cada espécie, há ali muita coisa para contar, não temos apenas as belas ou tristes histórias de quem sobrevive ou não, e de quem se impõe ou não se impõe.
Cada espécie em sua especificidade que aprofundada se pode tornar idiossincrasia; ou com melhor sorte, ainda pode descambar em fábula. Falo em fábula moderna, ou pós-moderna,  se quiserem, também pode ser. Não, aqui já não é apenas o leão que vê e a fêmea que caça e a ursa que hiberna e depois tem de caçar. Não, somos muito mais parecidos com os animais do aquilo que pensamos. [continua...]

* - tive de ver muito documentário de leões na savana em criança e não só para, como simples leigo,  estar habilitado a dizer isto, alguns de vós também, aposto. É quase senso comum.