sexta-feira, 19 de setembro de 2014

Sentir Bem Sentir Mal

Tanto fazemos porque sentimos que está certo. Por vezes mesmo contra o que nos diga o contrário, contra toda a razão que diz estás enganado, contra toda a evidência. Mas sentimos, sentimos que o devemos fazer, que temos de fazer, que é premente fazer, que é mesmo urgente e o mais correcto fazer. E esse sentir leva-nos e fazemos o que sentimos, o que a intuição nos manda e comanda até ao fim para percebermos que fizemos bem, que estávamos mesmo certos em seguir o que sentíamos certo. Damos então toda a razão a nós próprios, agradecemos, se for caso disso, também à bendita intuição, ao ser certeiro, damos por adquirido esse eu bem sabia, estava cá com um feeling, uma fezada (ou seria fé?), etc. 
Outras vezes - bastante menos, já que é preciso ter ultrapassado um tal "Meridiano da Intuição" e assim dar-lhe carta branca - vamos também nessa direcção, fazendo o que sentimos que é certo, achando mesmo que a dita infalível nunca falha nem se atrasa. Nunca mesmo até chegarmos à outra prova dos nove, ao diferente tira-teimas... Então nunca falhou até falhar... Depois, depois enfim, olha, chapéu, chatice, paciência, ui, que isto afinal estávamos errados, que eu não sei bem o que (me) aconteceu. Então se é grave estávamos completamente enganados, redonda mas redondamente enganados...

Vergílio Ferreira dizia que não havia isso do escrever bem, mas apenas o sentir bem. Tendo a concordar cada vez mais com isso. Cada vez mais tendo também a pensar nela, a pensar e a sentir que é verdadeira. E dá mesmo para usá-la de várias maneiras, assim à laia de prova cientifica. Por exemplo também posso dizer que não existe apenas o sentir bem como também o sentir bem bem, e o sentir bem mal. Só numa dessas de destronar certezas. De achar falível toda a arrogância que acha toda a intuição infalível. E assim me fico a sentir bem.