A
Batalha de Guadalcanal pode ter sido muito importante na Segunda
Guerra, não duvido, só não se pode é comparar a outras bem mais sangrentas, aterradoras e destrutivas o suficiente para não ficar pedra sobre pedra, muito menos imagens e histórias para
contar.
De Guadalcanal ficaram documentos, relatos, fotos, filmagens, livros de história e romances. Nestes o maior destaque vai para "The Thin Red Line" de James Jones que além de soldado também era escritor e fez do inferno de Guadalcanal a segunda parte da sua Trilogia da Segunda Guerra Mundial*. O escritor pôde transpor
para livro muito do que aconteceu e vivênciou. Décadas depois surgiria daí uma obra-prima para a História do Cinema.
Volto de quando em quando à barreira invisível de Terrence Malick. Não existe tal coisa como o melhor filme da vida, no entanto, por várias razões que não vêm ao caso, devo dizer que "The Thin Red Line" de Terrence Malick é o filme da minha vida. Vi-o mais de vinte vezes, apenas três em sala, digo apenas porque a primeira vez foi no ultimo dia de visionamento e querendo revê-lo só o consegui anos depois na cinemateca para onde voltei outra vez outros anos depois. Sinto-me pois auto-autorizado a dar crédito à minha visão destes trinta segundos de documentário**, qual flashback, três planos que são o lado real de muito do que vi naquelas vinte e tal vezes. Pensei "é isto, é mesmo isto!". Imagino que foi por imagens destas que Malick dava cabo dos actores com takes atrás de takes que os atiravam às cordas.
Do
mais, nunca encontrei batalha na Segunda Guerra Mundial com o mesmo
peso de metáfora, de capacidade de resumir tudo numa imagem, uma
imagem que consiga contar uma história, uma imagem que encerrada de
tal forma em sua redoma, consiga fechar o seu próprio círculo. Do que se vê, mais do que se sabe, Guadalcanal é o rosto daquele
soldado a tal ponto desesperado que, no limite, pode chegar ao
auto-desvanecimento - já não saber bem onde está, do porquê de
estar ali, de lhe restar apenas o absurdo. É onde fica a barreira invisível, naquela estranha atmosfera hostil,
infestada de insectos, répteis, vírus, charcos, selva,
canaviais. Onde o próprio tempo pode ser um inimigo maior que o
inimigo que nos combate, quando tudo de dissipa como a luz num Buraco
Negro.
Lembro
a reacção pouco
entusiástica de
um amigo meu na altura. A minha surpresa vinha mais de ele ter bom
gosto cinéfilo e gostar de alguns grandíssimos filmes e cineastas.
Mas adiante. Justificava ele o cepticismo, que "as coisas não
se podem pôr assim desta maneira".
Foi objectivo, talvez porque os japoneses estavam do lado errado da
barricada. Não via o óbvio mesmo à frente do nariz. Por
exemplo que se tratava de uma reflexão sobre a guerra, mais que um
filme de guerra, que Guadalcanal era tão só o perfeito "ponto
de cozedura".
Tenho para mim que Terrence Malick não poderia
fazer uma obra assim sobre o Vietname ou qualquer outra das guerras
injustas. Onde
é que encontraria aí o ponto? Onde ilustraria melhor a solidão do
soldado moderno tão cara ao autor do livro? Onde é que melhor
poderia encontrar a linha ténue, a barreira invisível?
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*
- "From Here To Eternity" sobre a vida na tropa, Pearl
Harbour, o soldado Prewitt (o Witt de Malick, o espantoso
Jim Caviezel) e a sua recusa em juntar-se à armada. "Thin
Red Line". "Whistle"
sobre o regresso, a convalescença e as marcas da guerra.
**
- A partir
dos 36:48, a sequência e as imagens.