quarta-feira, 10 de agosto de 2011

Lisboa-Cascais (II)



Cravava-me um cigarro, não tenho, respondi. Tu aqui? O comboio aproximava-se. Antes que respondesse, uma senhora idosa fumadora nos setentas veio agradecer a ajuda que dei na máquina dos bilhetes, deixe lá que eu também não sei como é que aquilo funciona, foi de improviso. De olhar tão vivo dava a ideia que envelhecer foi só uma coisa que lhe aconteceu. Ao lado uma mulher magra sentada num banco olhava-nos. Cabelos pretos, convencional, bonita. Ele continuou, "já não vives mais em Campo de Ourique, né...", tão certo de si que confundia viver com aparecer e eu moro sim, são as vidas, chutei para canto.
Entrámos pois na carruagem, ele encontrou logo um amigo com quem iria ter a Cascais  - pontaria - e sugeriu-me que me sentasse de costas no outro lado do corredor. Deixa ficar, detesto andar de costas, dá-me tonturas, saiu-me  em voz alta. E a bonita convencional sentou-se me mesmo em frente. Também me levantei às 5 e meia da manhã e o livro agora era o "Dom Casmurro". Não parava de me olhar,olhar amargo, fixa como uma esfinge. Depois nervosa retirava da carteira papeis de contas, bilhetes Lisboa Viva, calendários de farmácia, alinhava-os e voltavam para a carteira outra vez, depois cremes, para a carteira, depois recibos multibanco, para a carteira. Tonturas. Acabou mesmo por sair na mesma estação onde da ultima vez entrou toda aquela maralha de gente. Já em Cascais creio ter visto Capitu umas horas depois, estava acompanhada por uma amiga. A vila parava por onde passava. Quando acordei já era tarde.