domingo, 26 de junho de 2011

Tudo isto numa hora

São cinco horas na cidade, Vasco já abriu o estor, esteve a trabalhar até de manhã. Vai só tomar um duche rápido, fazer a barba. A porteira guardou-lhe a encomenda duns livros - ele desligou a campainha por causa do carteiro e dos miúdos da publicidade - mal o vê vai logo ter com ele que educadamente agradece e despacha-a pois o que quer agora é uma cerveja e uma sandes de ovo. De caminho passa pelo restaurante da rua de fugida, sem que o vejam, ele está à espera de receber uns dinheiros e o restaurante está prestes a fechar com a crise. Os óculos escuros largos e um marchar diferente no outro lado do passeio ajudam à camufragem. Missão cumprida. Mais à frente no café das sandes tem logo à espera o Sr. Leitão cujo nome não pressupõe o que imaginam: é magro que nem um palito, a alcunha na escola era "o espinhas" mas hoje quase ninguém sabe disso, quem o sabe fica calado porque porque hoje o Sr.Leitão é um tipo muito assertivo e boa pessoa. E falador, agora estava em pulgas para falar da política enquanto que Vasco gosta é de estar sossegado, mas lá teve de ser, “olhe, estive a pensar e afinal o senhor tinha razão em relação áquilo da Merkel..”. Passado uns dias dirá o seu contrário, isso já se sabe, porque com a Merkel ninguém brinca, se não estivesse sempre a falar disso provavelmente Vasco esqueceria a discussão acesa que tinha tido com ele em que chamou de tudo à frau . Na altura ia na sétima cerveja e agora sente-se ao escuro por dormir de dia. Se calhar vai mas é meter férias,  mas pensando bem o problema do momento é que a cerveja está choca e cerveja ao natural é das piores coisas que lhe podem fazer, “olhe lá, não me podia trocar esta cerveja?”; O espadaúdo respondeu que acabaram de ser postas no frigorífico. Ora gaita, Vasco olha então para o relógio, diz que são seis da tarde, a unidade das horas é na maioria das vezes muito limitada.