quarta-feira, 23 de março de 2011

É o "The Wall" e é pena




Sempre localizei "Animals" - um dos albuns mais estranhos do rock'n'roll - com a recessão económica dos anos 70, entre a ressaca da década anterior e o movimento punk prestes a explodir. "Animals", marca de um rock progressivo já a entrar em caducidade, é também por alguns demasiado subvalorizado - dando de barato que é o patinho feio da discografia dos Pink Floyd  e que foi mal conseguida a pretensa colagem a "Animal Farm" de George Orwell -  mesmo que tenha resultado num produto a puxar para o megalómano, confuso e pretensioso
Miguel Esteves Cardoso, numa daquelas belíssimas crónicas de música que fazia, chegou a apelidar o disco de "esforço tão desesperadamente porcino quanto a capa", desta não me esqueço. Mas megalómano e niilista no seu desespero, "Animals" tem sumo e coisas para dizer. E é hoje muito urgente. Como retrato, como metáfora, como forma de chamar os bois pelos nomes. Hoje "psicopatas" como Bernie Madoff, o outro do Lehmann Brothers, Oliveira e Costa ou o Rendeiro do BPP são decalques do "Pigs" e já tive um chefe que era exactamente "You're nearly a good laugh, almost a joker, with your head down in the pig bin, saying "Keep on digging." Pig stain on your fat chin .You're nearly a laugh, you're nearly a laugh but you're really a cry". 
Muitos empresários, gestores, quadros médios, self-made men, workaholics, cínicos, individualistas e toda uma fauna de stressados entram no preocupante quadro de "Dogs", onde me identifico mais; e a carneirada, a enganada, dependente e inofensiva carneirada, continua e continuará a ser a mesma que é retratada em "Sheep", muito passiva, mansa e candidamente a ser pastoreada, quiçá para o matadouro.
Roger Waters, em vez de repetir o já gasto "The Wall" pela trilionésima vez , faria melhor agora um espectáculo de "Animals". Até podia meter o tal porco voador misturado com as caras dos Thatchers de hoje. No esboço do post tinha os "personagens" e a coisa ficou tão tétrica e de mau gosto que deixo à vossa imaginação. Não resisto é a sugerir para Portugal balões de robalos gigantes, tacos de golfe com bolas de 6%, submarinos insufláveis ou facturas da EDP com dez metros de altura. Esgotaria cinco Estádios, em vez de dois Pavilhões Atlânticos.