terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Notas de um Facebook


O Facebook pegou de estaca por ser a rede social que melhor (se) encaixa na vida web 2.0. Daí ergueu uma fortuna colossal, um império incontestável, e o comando do futuro para as próximas décadas. Agora, com a nova e detestável configuração mudam-se mais uma vez as regras do jogo. As pessoas bem podem protestar, piar alto e mandar vir, que depois, como dizia o outro, "habituem-se". Para mim ficou mais piroso, mais ligado à trivialidadezinha, à lamechice dos "interesses comuns" e conversas do passado; a fotos e recuerdos escarrapachados e sem escape possível;  e à vida profissional também, para impedir que redes como o Linkedin sequer pensem em crescer, quanto mais em upgrades "desagradáveis"... É tramado. 
Mas o que causa mais espécie não é isso. Devo aqui dizer que sou mais adepto do Facebook dos desconhecidos - gente interessante que a brincar anda aqui a sério e vice-versa  - ter aquilo só para família, amigos e conhecidos de vista roça o tédio, não que elas e eles sejam entendiantes, pelo contrário, mas onde anda o sal? Voltando ao assunto, o que me causa mais espécie ali é também uma das coisas que me causa mais espécie cá fora: o mau fingimento, o de quem não sabe mas quer à força mostrar que domina, então se o assunto marca a agenda, o que tem de ser tem muita força, para parecer bem... Claro que isso pede certos requintes. E depois há sempre aqueles dispositivos tocantes do sujeito que tem tudo pronto e programado para dizer A) quando é C) e arranjar uma alternativa a B1) se  Beltrano disser Q), ou então fingir que não sabe o J) e depois se Sicrano disser o Z) vai dar um ar de surpresa e exclamar "ai é não sabia". 
No Facebook existe uma maior mediação do que cá fora, como é óbvio. Mas de vez em quando oferece-me espectáculos assim, comoventes. Foi o que aconteceu ontem, ao comentar um dos assuntos políticos em voga e que não vem ao caso. Dei um comentário espontâneo de camaradagem, praticamente esquecido pouco depois, até daí a três horas me ser lembrado de consultar o meu e-mail. Estava lá a resposta. E que resposta: comentário longo, cheio de meandros, de cálculos coiso e tal, clichés meia tijela, barroquices numa de soar bem, não fossem borrifar aquilo tudo. E eu pergunto-me: para quê? Ou pior, para quem? Era um amigo da vida real. Não me acho mau nem mesquinho mas a pretensão mal amanhada ultrapassa-me. Apeteceu-me logo pegar o telemóvel e dizer-lhe ouve lá qual é a tua, mas vendo melhor agora, acho que fiz bem em deixá-lo a achar-se, nas conformidades...
Voltando atrás, começo por vezes a preferir amigos virtuais reais a amigos reais virtuais. É que tendem a ser mais autênticos do que muitos que a geografia e a vidinha deram a conhecer...