domingo, 12 de dezembro de 2010

Autonomias




Da recente polémica sobre os Açores tenho mais dúvidas que opinião formada. Parece-me óbvio, claro, cristalino, que deva haver um mínimo de equidade quando se trata ir ao bolso do contribuinte. Questão de bom senso. Mas se desato a pensar naquilo já vi, transformo logo as minhas certezas em reservas. Conheço os Açores, onde estive cinco vezes. Devo dizer que nunca conheci terra tão esquecida e ignorada pelo seu próprio país. Só indo mesmo lá - local do mais belo de tudo o que existe - se pode ter a real noção dos custos da insularidade, do isolamento que é estar em minúsculas ilhas a meio do oceano, com perspectivas de voos a 250 euros para Lisboa; ou entre ilhas, a um "módico" preço de 100 euros percurso. Preço médio, vai aumentando à medida que os lugares se vendem. Dos barcos, não sei preços nem frequência. Mas levam tempo. Tirando o canal entre o Faial e o Pico, que é relativamente rápido, nos outros percursos perde-se o dia. Ou os dias.
Daí talvez se compreenda que existam palavras exclusivas para cada ilha, e sotaques distintos. Ou que por exemplo um terceirense tenha menos de temperamento de um habitante de São Miguel, que um tripeiro de um alfacinha, sem ponta de exagero. De resto, a autonomia do arquipélago não é tão perfeita como se quer pintar. Ou será uma autonomia um pouco para o maquilhado. O açoreano queixa-se muito da incompreensão, da morosidade nas decisões, das burocracias, do ter tudo de passar por Lisboa. De um país que acha que lá está sempre mau tempo, e que dos Açores apenas se lembra nas Agências de Viagem, nos noticiários de catástrofes, ou quando a porca torce o rabo e Cavaco se preocupa com o novo Estatuto dos Açores, ou quando o seu presidente eleito - com segundas intenções ou não -  se lembra de dizer meus amigos as coisas não são bem assim. Depois é ver o mundo inteiro a acusá-los de falta de solidariedade. Ou coisas piores.
Eu pessoalmente gosto muito de ver as peças do jogo encaixarem umas nas outras. Alberto João Jardim a não achar muita graça à inesperada concorrência de Carlos César, algo de tão previsível quanto comovedor. Pudera, ele, o mais gigante sorvedouro do pobre Estado português; ele, o mais estridente demagogo da História da Terceira Republica; ele, o maior populista e anti-democrata de toda a nossa Democracia. Ele, logo ele, há de querer aqui correr riscos? Negócios são negócios, um cêntimo é um cêntimo (como diria Joe Berardo, outro "benemérito" madeirense), portanto, toca de se pôr ao lado do "Continente" (leia-se dinheiro) e dizer mata para esfolar mais um bocadinho os vizinhos da sua tão cara "autonomia". Também é bom ver lembrado que os açoreanos são tão portugueses como nós, os continentais, é que já houve vezes em que me esqueci disso...