sábado, 18 de julho de 2020

143.



ASPECTO AO ESCORIAL


Há sempre essa viagem que te joga agora
Tecendo os fios do remoto
É preciso ir visitar os monumentos
E dos monumentos, o monumento
Ao último sopro de um cansaço

Sob a basílica do Escorial
Ouvir a missa, deitado
Penando de gota
Pelos meandros do perdão divino
Preferiria antes ter sido um agricultor, dizia
Séculos depois
Um céptico que por ali passou ficou tão confuso que não sabia
Se viu Deus ou um deus
Entre o diabo
Havia duas salas
Na primeira, todas as dores da época, penas ardidas, toneladas
Comprimidas ao corpo – talvez toda a idade média 
A salvação teria de estar na outra sala, a alegria branca

Aleluia 
Talvez a redenção estivesse
Na pintura no silêncio
Afinal de contas, não vivemos de absoluto alheio
Há sempre um grau de puro exemplo
A porta entreaberta do quarto de Dom Filipe de Espanha
A luz a cerrar séculos sobre si mesma
Um aspecto ao vácuo 
E ao infinito.

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