sexta-feira, 26 de abril de 2019

Louvor a IAGO ASPAS



Bilbau, 7 de Abril de 2019

O dia de anos do meu irmão podia ser resumido a Iago Aspas a triunfar numa televisão silenciosa num hotel de Bilbau. Está nada mau. A chuva e os deuses concordam. Chuva abençoada em Vigo, chuva abençoada lá fora, na rua, no rico País Vasco,  onde por mais que chova nada parece inundar-se. Mais por ser terra rija, de raça humana batida das montanhas, forjada do ferro depois da purga dos anos 80, o que daria outro longo texto, ou tanto melhor como os documentários no You Tube ou no sítio da RTVE, e deve-me estar a falta alguma coisa, ou no grande livro de Fernando Aramburu, ou por outra, naquele sujeito punk que apanhei logo à saída da boca do metro, na primeira vez que entrei em Bilbau, vinha eu de Amorebieta, a dar com ele mais alto que eu, para aí metro e noventa, música nos auscultadores e para quem o ouvisse gritar na rua, o refrão era: «Euskal Herria Libertaaaaad!»
Mas passemos a liberdade para a Galiza, directo aos maravilhosos pés de Iago Aspas, combinando com o seu espírito, sacrifício, generosidade, liderança, genialidade. Mesmo na chuva abençoada desta mesma tarde nos Balaídos, chuva abençoada. O penalti ao início da segunda parte – e nem foi preciso expulsar o guarda-redes adversário. A vitória, as palmas que não podiam acabar. Sou verde e branco de alma, coração e sangue, sportinguista de tudo, mas suspeito também que o meu carinho ao Celta traz um suplemento de raíz ancestral. Logo o amor à Galiza, pedido imensas desculpas à minha querida Corunha, tenho dúvidas que os do Celta sejam só tidos como os portugueses por estarem tão perto da fronteira. Para mim o Celta é efectivamente "o clube" que representa a Galiza. Pelo menos é o clube mais universalmente genuinamente galego. Ponto.  Mas não nos percamos: Iago Aspas. Iago Aspas é o homem. Da terra: Moaña. Frente a Vigo e aos Balaídos. Passagens em Liverpool e Sevilla e em nenhuma vingou, em nenhuma singrou, Steven Gerrard chegou a dizer que Aspas nunca trunfaria ao mais alto nível. Aspas? Falamos de um dos três melhores jogadores de Espanha, possivelmente o melhor jogador da história do Celta, talvez  o melhor jogador da história da Galiza. Só o mês passado, regressado de lesão, foi considerado o melhor futebolista de todas as ligas europeias. Se perguntarem a alguém como é que Aspas não está agora a disputar uma champions ou uma bola de ouro, como é que não triunfou fora do seu povo, falarão da morriña, morriña é a versão galega da saudade. «Pobriño, era a morriña», disse-me alguém daqui que percebe tanto de bola como eu de capoeira. Pobriño?É unânime qualquer comentador deste lado da fronteira dizer que Aspas consegue ter mais peso no onze do Celta que Messi no FC Barcelona. Ninguém tem argumentos que desmintam que não fosse aquela lesão de meses – que tanto ajudou a despedir Miguel Cardoso, diga-se – hoje o Celta de Vigo estaria a lutar pelas competições europeias em vez de andar com crises de ansiedade (e sobretudo de confiança) a contar o pontinho do salve-se quem puder, respirando fundo, a fundo, escalando a rocha da montanha,  desesperado a ver se chega... sobretudo se não escorrega. 
Podia ser pior, se esta lesão persistisse a época inteira, o mais provável era que este Celta já estivesse na segunda. Morriñas à parte, também não conheço nome mais céltico-guerreiro que Iago Aspas. Ele que não vai por menos quando diz que joga no clube onde sempre quis jogar. Traz o valor da terra. Mostra o que a terra vale. Simples, humilde, acessível, que genuinamente quer apenas ser mais um na comunidade e dali aportar o melhor que pode e sabe das suas qualidades. Chamam-lhe o génio de Moaña, o mago de Moaña e quando o observamos com mais atenção vemos o puro talento com o espírito de entreajuda. A generosidade com a eficiência. Querem o melhor do povo galego? Pensem em Iago Aspas. Querem vê-lo? Andará pela sua zona, sobretudo em Moaña, a sua terra, onde tão justamente já há uma placa na casa onde nasceu.  Com diz na sua mais recente entrevista, a Sara Carbonero: «Soy un ganador y no me gusta perder. Fuera, como vivo en mi pueblo, me abstraigo de la ciudad, Vigo. El que me ve en mi pueblo me ve en el supermercado, en la farmacia o en el bar cenando en la mesa de al lado; lo ven más normal. Me tira bastante mi tierra. En mi pueblo, siempre me he sentido muy a gusto, conozco a casi todo el mundo», ele que a semana passada renovou contrato até 2023: «He echado muchos años aquí, todas mis raíces en este club, desde los 8 años, he tenido dos experiencias fuera que no me han ido muy bien. Ha sido el paso definitivo para ver que este es mi lugar, mi sitio, estoy con mi familia, con mis amigos». 



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