A Farmácia, conto inédito para a Revista Palavra Comum.
«Custava-me ver a equipa atormentada, cada mês, cada funcionário, só o chefe se mantinha. O nevrótico no ar, na respiração do lugar, na voz ríspida, no trato. Tratava tão mal os subordinados que todos desertavam até serem substituídos por outros que, já se sabia, desertariam num piscar de olho. É preciso de vez admitir que existem criaturas tão nocivas que muitos acabam por ter mesmo de ir parar a uma farmácia. No meio de tanta toxidade, o tédio aqui é a serenidade em essência. E a senhora, voilà, eureka, está já a pagar a conta. Agora é só ver se não fala mais nada enquanto dá meia volta até à porta e adeus. Mas isto ainda não acabou, o outro dia foram uns bons vinte minutos e o filho em Londres e a prima doente e Deus nosso senhor e o diabo a sete… Sim, a farmácia também é lugar de misericórdia. E de lucros atómicos atreitos ao Big Money. Mas aí precisávamos falar dos lucros do Vaticano. Vivemos num mundo de Indústria e lavo daqui as minhas mãos com o anti-inflamatório e o paracetamol.»
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