terça-feira, 4 de setembro de 2018

120.


ASPECTO AO ESCORIAL

Há sempre essa viagem que te joga agora
Tecendo os fios do remoto
É preciso ir visitar os monumentos
E dos monumentos, o Monumento
Ao último sopro de um cansaço
A porta aberta do quarto de Filipe II de Espanha 
Sob a basílica do Escorial
Forma de ouvir missa, deitado
Com gota
Para ser mais fácil o perdão divino
Antes ter sido um agricultor
Séculos depois
Um agnóstico que por ali passou ficou tão confuso que não sabia 
Se antes viu Deus ou um deus 
Entre o diabo
Havia duas salas
Na primeira, todas as dores do mundo, penas dissolvidas, toneladas
Comprimindo todos os corpos
A luz a cerrar sobre si própria em séculos
Lágrimas medievais do medo 
A salvação teria de estar na outra sala, a alegria branca, mais ao fim
O branco da redenção
Na pintura e no silêncio
Afinal de contas não estamos completamente alheios
Há sempre um grau exacto
A coincidir com o rei Dom Carlos
Há sempre um termo ao ar da quebra
Há sempre um aspecto ao nada 
E ao infinito.

Sem comentários: