sexta-feira, 17 de agosto de 2018

117.




MULTIVERSO


1.

Tudo é oculto
Tudo é organismo trabalhado
A aparência
A aparência é oculta

O organismo imaginado. 


2.

Vírus ou tudo cheio de água a encher o poço. Navegaria o futuro ali fechado, encerrado, dentro desse poço. 


3.

Aspirá-la para ser aspirado. Vida própria dona da outra, alheia da outra alheia, crescimento das raízes do medo. Dar dali meia volta e ir embora não contempla um novo encontro... 


4.

A ideia é escrever sempre. Estar sempre a escrever. Escrever como se respira. É preciso escrever. É preciso escrever mas não é possível escrever o tédio de uma manhã na TV sem que a folha saia do ecrã por melhor que seja a literatura. Porque para escrever é preciso escrever, é preciso ser preciso escrever o preciso escrever preciso. Escrever preciso escrever. 



5.

Conhecer toda a gente nada tem que ver com desenvencilhar-se do trânsito


6.

A cidade onde não pudemos ir 
Pode ser uma metáfora
Uma imagem
Ela no hospital 
Eu aqui
Tenho reservadas as minhas forças
E uma palavra pode valer mais que qualquer fome
A dieta urgente de passado
Pela tua saúde
Não vale a pena repetir a dose.


7.

Saber que Maomé é que tem de primeiro ir à montanha. 

Saber que o Universo vem de muito mais longe que Andrómeda.

Inscrever a palavra nos talheres da mesa.

Falar escrevendo.

O serão com as sobrinhas. 

Ir para o próximo verbo, não em mim mas no próximo, sempre o próximo...


8.

O paganismo é sagrado
As leis pelas estações da Terra
A ciência pela natureza 
A concepção da criação humana
Com forças que transportam as ondas do mar
Pelas leis da lua
Construir uma casa de montanha na cabeça
Ser uma assembleia.


9.

Ou se escreve no momento ou já não se escreve. Entretanto o sol entra em casa como um forno, há pressão quando chegam as noticias. 


10.

Pensava que seu jeito era uma forma de sabedoria. Ou então, vá-lá, de arte, vá-lá, de estilo. Sacraliza a leitura para se proteger - a estante era uma represa, protegia-o do mau olhado.


11.

Amuralhado lá ia remetendo as várias notas de intenções. Não se enganem: não era tanto a pureza do campo como o terror da cidade....


12.

Exagerando a dose de força pelo excesso de disciplina
Não tenho força nem lucidez nem porte 
Para mergulhar no Poço 
Onde me é reservada a indiferença.


13.

O casco de foguetes, a agulha do gira-discos
Eduardo Galeano e Camilo Castelo Branco
Dane Rudhyar pensando o centro do Multiverso
A estação de comboios de Cascais
Madragoa é a última pista.


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