sexta-feira, 8 de junho de 2018

VIA AEROPORTO DE SANTS






Acordar pela rua ultra-pacífica. Bairro gótico de manhã é a coisa mais pacífica. As Ramblas mantém a temperatura. O forno ainda não começou a aquecer. Entrada no Metro, duas estações, Praça da Catalunha. Já está ali um grupo de estudantes. Pede ajuda. Seguem-nos até ao autocarro. Na Plaza de Espanya um galego entope o tempo à entrada do autocarro também entupida. Está stressado, imaginamos que seja um dos muitos que vem da Galiza a Barcelona ou Valência para se meter num barco para ir trabalhar no Mediterrâneo ou norte de África. Entretanto vá-lá, prosseguimos. O trânsito é nulo, a cidade da cor de uma cerveja clara. Ou pelo menos assim escrevo eu agora, esta memória remota e tão recente. Posso dar-me ao luxo de se anacrónico, posso dar-me ao luxo de dizer que não é para todos. Hamburguer, vontades de aeroporto, vontades de hamburguer. Burguer King a dez euros, o que nem pensar: nem Burguer King, nem um euro. Tudo à vista da mesma pista onde antes dois aviões da Norwegian Airlines entre outros dispunham Knut Hamsun como se fosse um duelo do oeste, cada avião o seu escritor, nos aeroportos da Europa, uma lowcost que se sabe vender. Imaginem um TAP Camilo Castelo Branco, em frente a outro avião Eça de Queiroz, imaginem José Cardoso Pires defronte a Agustina Bessa Luís, ou Alexandre O'Neill e Sophia, que glória, que orgulho pungente nos dariam os aviões da TAP, chegar ao aeroporto e ver um avião Jorge de Sena ao lado de um outro de Ruy Belo. Para fim de conversa fica a descida do avião por Pontevedra para logo aterrar em Vigo, um portento pelas rias, pelas ilhas, pelos azuis do mar. Chegar a uma pista inteira só com um avião e uma avioneta. Como se redescobrisse o oxigénio.