quinta-feira, 8 de fevereiro de 2018

103.


[Mesquita-Catedral, Córdova, 2018]

Não fosse Sevilha e Granada a servirem de filtro e Córdova como existe já não existia. Ali, como em nenhum outro lugar, nem mesmo Granada, se sente o Al Andalus como presente dos tempos. Tem ruas e recantos onde tudo se mantém intacto, onde se fizermos acertos é como se uma civilização inteira tivesse ido dali embora a semana passada. É como um carimbo que nos marca ainda (um) fresco de um apogeu. Muito mais urgente e importante desde que o fanatismo destruiu Palmira, ou Aleppo. Depois de todas as mesquitas que se fizeram igrejas ou catedrais como a de Sevilha. Ou catedrais que se fizeram mesquitas como as de Istambul. Tal como refere o excelente Luis Récio Mateo, lendário guia da Mesquita-Catedral: "Córdoba es la continuación de Damasco". Quem somos nós para o negar. Ou como contradizê-lo quando diz que é aquele o último bastião da paz e coabitação entre as duas mais conflituosas religiões da Terra. Verdade é que Córdoba é um centro de generosidade que grava intacta sua memória, que mostra orgulhosa seu admirável instinto de conservação, capaz de um contínuo cuidado com suas mais fundas raízes. Só mesmo Córdova na mediterrânea Europa para encontramos esse fascínio que encontrou o Islão em Bizâncio sem neutralizar o românico esplendor. Viramos o disco ao contrário, sabendo que fellahmenghu quer dizer um poeta a cantar e a verdade é que os tablaos não pararam de crescer. Continuem pois os Estados Unidos a fazer filas de três horas para o Alhambra. É da maneira que podemos entrar pela Mesquita-Catedral quando nos der na gana. Pelo menos até que venha o papa.