sexta-feira, 3 de junho de 2016

The Bank of Korea


1 - Já o tinha visto de manhã. Parecia ir para um trabalho lixado. Conheço-o de não sei onde. 

2 - Foi pouco depois de finalmente ter reencontrado uma conhecida que até pode ser amiga - faz tempo desde que eu a vi com uns dezassete, dezoito anos, assim de estalo. Agora é mulher, tem um miúdo, casada, sou amigo de dois irmãos dela, mesmo que nunca os veja, com o mais velho, por exemplo, há coisa de um mês, retomei uma conversa de 1999.

3 - Correntes e remoinhos, dificuldade em nadar neste lago. Até mesmo como personagem - não, não é mais fácil com braçadeiras, nem uso duplos, nem me dependuro...

4 - Esquina da Saraiva de Carvalho com a Ferreira Borges. 

5 - Vi-o depois à noite ali ao pé dos bolos quentes*. Nem 24 horas já envelhecera dez anos. Desolação desértica, um saco azul do Ikea com as roupas e haveres, os sapatos novos cheios de pinta.

6 - Não tenho especiais recordações da escola, nem num facebook os quero, quanto mais. 

7 - Dei-lhe euro e meio, olhei-o nos olhos. Valeu-me o compasso de uma merenda na rotunda. Deitado fora o papel de embrulho, lá estava ele, consternado, abatido, devastado. Bom ter uma nota de cinco encolhida no bolso pequeno das calças. Festa no estômago.

8 - Leva lá, amigo, leva. Que sim, sim senhor, mas só se for troca por troca. Respondi que não, não era preciso, de todo, de todo não, esticou-me o braço com uma nota de mil do outro lado do planeta: The Bank of Korea - tenho-a aqui mesmo à frente, mais verdadeira que as verdadeiras... 

9 - A continuar assim chegará ao ponto de ser confundido com quem chuta castanha antes de ir para um canto refundido... 

10 - Venha daí uma segunda emenda.

* - pastelaria que vende bolos e pão madrugada adentro, e cerveja. Lá se costuma dizer isto não existe. Ainda bem.