quinta-feira, 5 de novembro de 2015

44.


IMPOSSÍVEL

Não quereria dominá-la - nem tal passaria pela ideia
Só queria mesmo era entrar na praia
A única forma de poder apanhar a onda, aquela onda
A pura adrenalina sem vertigem
A pura da mais puta alegria
Impossível
Completamente impossível, disse-me alguém,
É que ninguém...
Pois respondo-lhe agora, prosaicamente, que pelo impossível tenho percorrido muitos possíveis
Milhas e milhas de possíveis, todas as milhas possíveis
E dentro das milhas possíveis, ainda mais milhas possíveis
Lisboas quantas? Umas tantas
Sim, tenho percorrido muita Lisboa...

Mas diz que é impossível
Mesmo
Mesmo mesmo mesmo impossível.

Calma, também não iria surfar um tsunami
Isto houve algum tremor de terra? Então calma
Calma...

Pense-se ao menos nesses alegres doidos sem bem a noção das costuras 
Como eu agora não sei do raio do comando que me projecta essa constante:
Cabeças de alfinete, formigas a descer montanhas de água
Vagalhões que nem Waimea Bay, que nem qualquer canhão da Nazaré
E essas ondas existem, se existem, elas e todos os loucos que as tentam
Depois há quem as apanhe e as surfe. Depois há quem morra dentro delas. 
Podem perfeitamente ser os mesmos. Podem haver estranhas simetrias. 
Disse-me ele então que ou são levados da breca ou são levados pela breca
Pois eu prefiro pensar que são levados pela leva valente leva
Que estão tão puramente possuídos pela euphoria versus vertigem
Que podem até citar Gilles Villeneuve, esse Aquiles em turbo: «Vida ou morte é apenas um pormenor...»
Levados da breca ou levados da leva?
Tanto faz, amigo, tanto faz...