quinta-feira, 12 de junho de 2014

19.

Pela primeira vez na vida escrevi um sonho completo. Um sonho completo  - que na realidade é segmento de sonho mais longo - com principio, meio e fim. E como uma boa história - mesmo que uma história má -, esta inicia-se em andamento: esse autocarro onde me encontrava. Escrever o sonho foi muito importante. Ajudado pela escrita, apanhei sua coerência e visão intrínsecas, também sua unidade, forma e mais real conteúdo. Escrevendo, arrisquei pois a literatura desse sonho. Conto ou mini-conto, foram 560 palavras de rajada. Coisa curta, porém, pormenorizando cada aspecto, serão mais, não muito mais, a não ser que comece a inventar, a usar o sonho como ponto de partida. Ora assim recordo que o velhote barbudo que entrava a reanimar o condutor de autocarros (não vou contar o que aconteceu) no sonho era igual ao do video do The New Pollution de Beck. É óbvio que o sonho veio antes do vídeo. Aos anos que eu não ouvia essa canção. Também o sonho veio antes da internet, é preciso dizê-lo, mas por este andar talvez um dia alguém o esqueça. Mais importante é que nesse sonho, megalomanias à parte, senti-me mais perto de Borges ou Bioy Casares a escreverem certas páginas, esse lado de ente-conto, usando as palavras de Roberto Bolaño. Então saí de casa, tinha de ir ao super-mercado, e tive logo três encontros fortuitos. Um de uma constatação, outro de uma confirmação, o outro de uma dúvida. O primeiro, de um desconhecimento; o seguinte, de uma amizade; o final, de um conhecimento. Este último é o que tem mais dúvidas e áreas de profundidade, para não dizer de perigo. Na amizade, pelo contrário, estamos sãos e salvos. O do desconhecimento, pois, já não me recordo.