segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014

Philip Seymour Hoffman (1967-2014)



A primeira vez que vi Philip  Seymour Hoffman foi em "Happiness", como muita gente, num papel daqueles que não se esquece, tão marcante e simultaneamente surpreendente era toda aquela interpretação - decadente, peçonhento, impressionante inesquecível personagem. A surpresa seguinte foi Phil Farma, o médico bom (bem sei que pode soar um pouco pleonástico dizer assim médico bom, mas era mesmo um médico bom, a encarnação absoluta do médico bom, como não me lembro de ver outro) de "Magnolia" que vi antes de "Boogie Nights" do mesmo realizador que me tinha até ali passado despercebido. Vá-lá que tive a sorte de o apanhar numa reposição não me recordo onde - no Cine 222, ou no Quarteto, ou no Nimas, ou no Mundial, ou terá sido na cinemateca, não sei. Só sei que Seymour Hoffman era aquele sonoplasta gordo efeminado e um pouco idiota. Eu que já estava mais que esclarecido em relação ao enormíssimo actor naqueles dois primeiros filmes, não podia acreditar num tal contraste em apenas três interpretações. Tinha ali um verdadeiro camaleão, talvez até mais que isso. A transformação em papéis soberbos e/ou inolvidáveis - que dava a ideia até de ser física, quando no fundo víamos o actor mais ou menos sempre com a mesma compleição - continuei a ver em "Big Lebowski", "State and Main", "Almost Famous", "Punch Drunk Love", "25th Hour", "Capote" (admirável interpretação que deu em Óscar), "Charlie Wilson's War", "Moneyball" (a fazer as vezes do treinador de basebol Art Howe, priceless). Por incrível que (me) pareça ainda não vi "The Master", que não consegui apanhar no cinema e outra vez, por incrível que pareça, não existe no meu clube de vídeo (vai ter de ser no Meo, se calhar hoje) e é de todos o único Paul Thomas Anderson que até hoje ainda não vi. Cruel coincidência. 
Faltar-me à ver também "The Savages" e "Synecdoche, New York", dos que creio que vale mesmo a pena. Curioso que há uns meses, num daqueles acasos felizes, vi pela última vez o actor num filme já de há uns anos. Uma história verídica sobre um viciado no jogo chamado "Owning Mahowny", que o canal Hollywood teve a excelente ideia de pôr no seu alinhamento. Em muito boa hora, diga-se. Mais um personagem verídico onde Seyour Hoffman ultrapassou a fasquia. Ele que nos conseguia surpreender a cada interpretação como se fosse a primeira vez que o víamos actuar. Era como se nos esquecêssemos de todos os seus papéis anteriores. É a tal coisa da fasquia, Philip Seymour Hoffman tinha-a muito, muito alta. Neste caso dir-se-ia que conseguiu engolir o filme todo, quase até deixar de constar que tenha havido ali mais alguém (tenho uma leve ideia de Minnie Driver e John Hurt, que constato agora que lá estava). Deixo-vos este vídeo em jeito de homenagem.