quinta-feira, 1 de agosto de 2013

Pacific Ocean Blue




Diz-se que Dennis Wilson tinha as ideias no mar, navegando pelo iate, seguia depois para estúdio. Que nesse vai-vem passou boa parte dos anos 70. Presumo que gostava de espaços transitórios.  Também o amor aos carros e às estradas devia vir daí. Monte Hellman fez bem em escolhê-lo para "Two Lane Blacktop". 
Bem que Dennis Wilson podia ter continuado assim: no mar, na estrada e no estúdio - espaços de todos os espaços, lugares de partidas e chegadas. Mas, coisas da vidinha, os Beach Boys - falidos ou com ganas de ganhar uma pipa - venderam o tal estúdio à beira do mar. Perdido o farol ou ponto de orientação, coincidência ou não, o barco acabou também vendido. O álcool ajudava a tontura. Contaria também a ressaca de uma turbulenta relação de amor ódio com a actriz Karen Lamm resumida legalmente em dois casamentos e dois divórcios e artisticamente num extraordinário album a solo e num outro inacabado. 
Sabemos também dos fantasmas vindos de um violento pai tirânicoDennis Wilson foi amiúde espancado, fisicamente era o mais mal tratado; Brian Wilson, o mais abusado psicologicamente e humilhado publicamente. Este caiu depois na depressão, delírio e megalomania. Dennis foi o álcool. O precipício já teria começado com o impensável despedimento dos Beach Boys, a decadência seguiu-se em hotéis baratos defronte a bares ia gastar a vida. Era visto na mesma praia onde domara ondas nos dias em que as pranchas eram autênticas tábuas de long board
Também passava os dias na marina onde antes atracara o barco. Os amigos  lá lhe iam aparando os golpes, talvez salvando a vida. Situação típica a que quanto mais nos habituamos, menos acreditamos em "mudanças". É quando o abismo se torna trivial, quotidiano, diário. E as constantes más surpresas não são surpresa nenhuma. Dennis Wilson andava como andava, a beber desde manhã, num devaneio decidiu mergulhar para apanhar umas coisas que tinha atirado do iate três anos antes. Correu mal. Ao menos ficam as memórias