sexta-feira, 30 de novembro de 2012

Sportingball




Um dos motivos apontados em "Moneyball" para a revolução e mudança do paradigma do basebol norte-americano tem que ver com a diferença abissal entre o comprar vitórias (1) e o comprar jogadores. Essa diferença não se pode basear noutra coisa que não seja o verdadeiro mérito, não o mais óbvio, mas aquele que nos diz o que realmente se vale no presente e se pode valer no futuro. O que num sistema de estrelato tem extrema dificuldade em se aplicar: jogadores com falhas, defeitos, fealdades e desajeitos são encostados de parte sem que ninguém se dê ao trabalho de espreitar se não há ali qualquer coisa. Que tal ao menos experimentar, ora é isso que faz o manager Billy Deane com a ajuda decisiva do assistente Paul DePodesta (Peter Brand no filme). Aguçam o engenho a falta de fundos e a vontade de continuar a ser competitivo e não passar de cavalo para burro depois de um extraordinário segundo lugar na época anterior. Jogadores que por uma razão ou outra - ou porque não têm estilo e escola, ou porque estão velhos, estouvados, lentos...- valem pechinchas, podem afinal contar e muito porque afinal o coxo é um batedor fenomenal, o feioso pode ser a estrela, o gajo que está acabado tornar-se o comandante da equipa, e o gajo que ganhou fobia ás bolas e entrou no plano inclinado da insegurança, bem trabalhadinho, até pode valer um campeonato. Não darão ao inicio receitas em camisolas e cadeiras vendidas, muito menos tempo de antena e uma pipa de notas em comissões para empresários, mas a coisa faz-se. Deve ser o máximo dos máximos vencer quando o mundo inteiro está a olhar para o lado. Adiante. 

A ideia e conceito de "Moneyball" é um bom porto para ver este Sporting. Compramos jogadores mas não compramos vitórias. Não é só o comprar (com e sem aspas) que está aqui em jogo. É também o que vem dentro do pacote: a lógica de vitória versus a lógica do falhanço, um grupo de gente que não funciona em conjunto e está a milhas de poder funcionar individualmente. A imaturidade, a falta de experiência, a sobrevalorização de uns, a subvalorização de quem é formado na casa, sabe o que significa o clube e tem escola, trabalho e dinheiro investido em todo um potencial que feita a escala de formação daquela que é reconhecidamente uma das três melhores escolas de jogadores do mundo não deve ser nada de deitar fora. A falta de critério, de know-how (e know-why já agora) e de sentido de exigência só pode ser  inflacionada com a esmagadora pressão de clube grande e enorme mediatismo e peso social que isso implica. É ver empresários glutões a impingirem-nos jogadores que não precisamos enquanto  muitos em quem investimos uma carreira gastam os anos do contrato numa rodagem mais que rodada. Não será tudo isto quantificável em número? Não existe matemática que clarifique isto, vá-lá, em probabilidades de sucesso? Alguém ali ao leme conhece a lógica da vitória? Sabe o que é preciso para ganhar? O presidente não é de certeza. Ele não soube sequer ganhar as eleições, há mesmo hipóteses que não as tenha sequer ganho, ou pelo menos foi a primeira vez na vida que eu ouvi falar em afinação de resultados para justificar uma mudança de vencedor as 4 horas da madrugada. Mas admitindo que sim, que ganhou mesmo aquela eleição que todos davam como perdida – a culpa nestas coisas é sempre atirada aos jornalistas -, a coisa foi, de uma forma ou doutra, também comprada, e tal como no mesmo "paradigma da derrota", arranjam-se "nomes" e confunde-se o que as coisas são por aquilo que dá jeito que elas sejam pela imagem e estatuto criados antes e desfasados e sem forma de funcionar depois. Claro que os cenários começam a ser destruídos logo à primeira tempestade. Desses nomes que tais já não resta um. A fogueira das vaidades queimou-se e do saco de gatos não ficou lá nenhum dentro. Ficou só o presidente, afinal de contas era ele quem pegava o saco e os resultados estão à vista (2). A matemática é lixada, 18 jogos e apenas três vitórias. 

Voltando a "Moneyball", a lógica das equações e a frieza dos números não são meras abstracções, mesmo no futebol (3). As acusações de puro calculismo cientifico, que os jogadores não são robots ou que o basebol iria ser destruído ignoraram que o cálculo não inventa os números, é feito a posteriori e, já agora, é verdadeiro. Wall Street também não é isso? - perguntaram mais que uma vez a Michael Lewis. A resposta é taxativa: "naaahh...Wall Street is a scam". Não é preciso muito para ver que este Sporting ou é só esquemas ou é todo um esquema pegado.

_________________________________________________________________________

1 - imagino que uma boa percentagem de vocês pensou logo em Pinto da Costa, ora vejam bem o que não é subverter as regras...

2 - de futebol falando, porque há ali trabalho bastante meritório no erguer de um canal de TV do clube, na criação da equipa B ou do regresso do rugby e hóquei em patins. 

3 - 
que é a meu ver mais fascinante e único que qualquer outro desporto porque dá como nenhum outro um peso real ao imponderável da subjectividade. Futebol é pura beleza, não precisa de pedir pontos...