segunda-feira, 5 de novembro de 2012

Mais Factotum


"Roll The Dice" parece encaixar no filme como o poema na saga do escritor. Dá a entender, faz o panorama: para o escritor a sério tudo é um teste. Um teste à escrita pois. O poema está lá, para além da bebida, das mulheres, dos empregos, dos pais, da fome, das pensões decrepitas. Não fosse assim, e Bukowski nunca poderia ter escrito tanto para aquilo que bebeu e se consumiu, muito menos teria vivido até aos 74 anos alimentado a álcool em excesso pelo menos desde os vintes. A bebida era ao mesmo tempo a armadura e uma ferramenta de trabalho, uma protecção e um propósito para. Não estava lá para o destruir, para se afogar nela. Nem de propósito distinguia bebedores amadores de bebedores profissionais, nem de propósito foi tão cruel a criticar a forma como se finou Malcolm Lowry, como que a dizer, claro está: beber não é para amadores. E "Roll The Dice" é um machete a dividir toda uma casta ao meio. Escritores pastosos, mesmo que de génio, mesmo que grandes escritores, não entram.