quarta-feira, 21 de novembro de 2012

Indian Runner



"Indian Runner" marca o inicio do Sean Penn realizador mas é surprendentemente maduro, o melhor do autor até "Into The Wild" em 2007. Penn tem uma escrita cinematográfica própria, um estilo marcado que combina beleza e extensão da paisagem americana com influências dispares do melhor que se pode pedir a alguém, sobretudo de John Cassavetes e Terrence Malick. Diríamos que pela paisagem física do "Nebraska" e na voz off e cadência sonoras lembra "Badlands" e na tensão emocional e imprevisibilidade dos personagens temos o aproximar (que não passa de um aproximar, nem poderia ser de outra forma) a John Cassavetes, a quem "Indian Runner" é dedicado. O inóspito e imutável Nebraska também ajuda. Assim como a parelha de actores onde gira o filme: o soberbo Viggo Mortensen e o competente e seguro David Morse. São eles os manos Roberts que se estimam e reconhecem para além do clássico e terrível conflito entre a existência pacata família/trabalho/família e aquela que não se sente em lado nenhum que não na vertigem demoníaca e (auto) destrutiva, aí temos Mortensen num dos grandes papeis da sua carreira. O tema e conteúdo de "Indian Runner" é baseado em "Highway Patrolman", de Bruce Springsteen, canção de "Nebraska" que inspira e dá o mote ao filme. Que mais? A falsa câmara lenta, uma lentidão densa, granulada, o espaço, não apenas o físico, mas também o dado aos actores e à excelente banda sonora de Jack Nietzsche
Se como actor Sean Penn é versátil e mesmo mutável consoante os corpos e os rostos dos personagens que encarna, de grandes actores está o cinema americano cheio. O que está para além disso, o que o torna inultrapassável é, a meu ver, o que nele está para lá da interpretação, o que vê mais longe, o que desmente no tempo algum insuportável tipo de cinismo...