De vez em quando só estou para apagar as luz da sala, sentar-me no sofá e ligar-me numa daquelas séries sobre astrofísica que dão no Meo. É o meu planetário pessoal. Horas passadas Big Bang adentro, buracos negros, galáxias, supernovas, luas, planetas, nebulosas, matéria negra, quasares...Tem qualquer coisa de ritual, música para ouvidos agnósticos, Stephen Hawking a dizer que decifrada a chave da
origem do Universo entraremos pela primeira vez na mente de Deus. Talvez o assombroso já esteja intuído
na sorte que é estarmos aqui agora vivos e a ler e a escrever em blogues numa probabilidade muito menor que ganhar o euro-milhões. Desde a vitória da matéria sobre a
anti-matéria, rés-vés, mais a velocidade da gravidade que está precisamente no
ponto certo, passando pelo tamanho exacto do sol, ou a distância exacta que
dele distamos, que não pode ser maior nem menor do que é, sob pena de nos
aniquilarmos; até à massa do nosso planeta que bastava que fosse um pouco menos esturricar-nos iamos por falta de campo magnético para nos proteger dos raios e ventos solares. Isto falando do universal. Para o particular de sermos precisamente nós a estarmos aqui outro jogo se abre, com probabilidades tão ínfimas que duvido que haja alguma vez maneira de serem calculadas. O próprio
Hawking fala numa razão de ser, numa prova pelas leis da física
que o Universo foi criado do nada. De qualquer modo tudo isto está para além da nossa inteligência e capacidade de entendimento. Lembro-me de uma vez no Facebook ter lido directamente de São Paulo esta frase de Nelson Rodrigues:"Toda a coincidência é inteligente, não há coincidência
burra". Brincar aos planetários serve ao menos para deslocar o quotidiano da pele.