As
pessoas começaram a ir aos descampados onde cresciam as ervas.
Tinham aprendido que algumas das ervas podiam ser cozinhadas e
comidas. Havia porrada em todo o lado. Andavam todos zangados. (…)
Havia pessoas a falar de segundas e terceiras hipotecas. Uma vez à
noite o meu pai chegou a casa com um braço partido e os dois olhos
negros. A minha mãe tinha algures um emprego mal pago. E cada
garoto do bairro tinha um par de calças para domingo e outro par de
calças para os outros dias da semana. Quando os sapatos se gastavam
não havia outros. Nas lojas vendiam-se solas e saltos a 15 ou 20
cêntimos incluindo a cola, e eles eram colados aos sapatos velhos.
Os pais do Gene tinham um galo e algumas galinhas no quintal das
traseiras, e se alguma das galinhas não punha ovos suficientes eles
comiam-na.
Quanto
a mim, era o mesmo – na escola, com o Chuck, o Gene e o Eddie. Não
só os adultos se tinham tornado piores, os garotos também, e até
os animais. Era como se imitassem as pessoas.
Charles Bukowski, Ham On Rye (Pão com Fiambre), tradução de Manuel A. Domingos, Ulisseia, 2010, p. 106
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