sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Um espelho de 4



Mesmo sobre o fim, nos descontos de uma eliminatória sofrida e de um jogo virado a favor, quatro jogadores do adversário surgem isolados na cara do golo, um deles marca e transforma o impensável. Dizem que foi uma distracção e falha colectiva. Errado. Foi muito mais que isso. Nesta imagem de corar de vergonha qualquer sportinguista, estão mais que aqueles seis jogadores, mais do que os onze até. Mais do que os suplentes, o treinador e demais ajudantes. E está muito para além do erro ou distracção, é uma falha que suplanta a sua própria falta de carácter, tal como aquelas pessoas que subitamente descobrimos que afinal não são tão burras quanto isso, porque não podem, porque é impossível chegar-se a tanto...
Este golo é muito mais que azelhice pura e dura. É um golo espelho. E o espelho partiu-se. E agora só resta começar tudo do nada. Persistir só trará mais cacos. Ou mesmo os quatro defesas dos juniores.

sábado, 19 de fevereiro de 2011

Condomínio Europa



Vi-o ontem pela última vez. Mais a carcaça, que o resto já tinha ido sem ninguém dar por nada, às escondidas. Estava cheio de pressa mas tive de parar, até me ofereci um café para estar mais tempo ali, a ver o resto do Cinema Europa a cair no entulho. Eu e mais umas dezenas de pessoas a olhar para um guindaste a ir contra uma fachada única e familiar, algumas sem saber o que pensar daquilo, assim entre o ofendido e o tem de ser tem muita força. Um filhos da puta veio-me à cabeça, perdoem-me o francês. Recuso-me a entender como é que aquilo não podia ser aproveitado para um teatro, um cinema, as duas coisas, uma sala de concertos, as três coisas - numa zona daquelas cheia de gente, restaurantes, cafés, cervejarias. Um condomínio fechado?
No futuro talvez diga aos meus netos que havia ali um cinema desaproveitado, que a sala era excelente, que vi ali um filme aos 6 anos - o Bamby, se bem me recordo - ou um memorável concerto de Julio Pereira gravado para a televisão. Ou uma gravação do 1,2,3 que foi uma seca descomunal mas que me fez saber do prémio antes de toda a escola. 
Fala-se agora que haverá - haverá? - no piso térreo um centro cultural ou uma mediateca. Uma mediateca tenho de certeza melhor em casa. Uma mediateca é uma daquelas coisas mandadas como quem está a gozar sem se rir enquanto joga as cartas debaixo da mesa.  Uma mediateca é uma daquelas coisas que nos faz perguntar: mas para que é que eu quero uma mediateca? 

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Por conta própria



"Somos todos feitos de retalhos, entretecidos tão disformemente que cada elemento e cada momento age por conta própria. E tanta diferença há entre nós e nós mesmos como entre nós e outrem."

 [Montaigne]



domingo, 13 de fevereiro de 2011

Pensar alto

Dá-me ideia que andam muito na net a marcar território, não vá o diabo tece-las. Custa-me entender isso, mas também não tenciono perder tempo com subjectividades dessas. Vá-lá que sou dos que conseguem distinguir quem realmente vale a pena do resto da pandilha pretensiosa. Penso que essa é uma das minhas qualidades. E também o não me apetecer entrar nesse tal jogo do território. Porque é que me havia de apetecer? Gosto de respirar. Ninguém me obriga...

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Missing John Lurie



John Lurie deixou a música há mais de 10 anos, problemas  neurológicos vários, coisa em que nem os médicos se resolvem. Conta que nem pode ouvir música, deve evitá-la até, sob pena de tenebrosos efeitos secundários. Outros falam em paranóia. E que Lurie voltou recentemente ao saxofone. 
A verdade é que John Lurie se confinou durante seis anos ao seu apartamento de Manhattan. Depois duma vida passada a criar, a fazer e a acontecer - a solo, com os Lounge Lizards, bandas sonoras, com o alter-ego Marvin Pontiac, como actor, como autor-realizador do soberbo "Fishing With John" - o renaissance man agarrou-se e com sucesso à pintura. Um ultimo refugio, terapêutico certamente, mas antigo para ele pelo menos desde os tempos de Basquiat e Keith Haring. Diz também que tem uma auto-biografia quase pronta porque só lhe davam um ano de vida. Sabe-se que anda fugido desde 2008 por supostamente estar a ser perseguido pelo ex-amigo John Perry. Verdade e paranóia vivem com ele paredes meias.

domingo, 6 de fevereiro de 2011

Constipation Blues



Andei toda a semana com uma Gripe daquelas, na verdade foram dez dias. Mais uma vez armei-me em herói achando que esta seria igual a outras e partiria como chegou, depressa. Não me preocupei sobremaneira, nestas ocasiões lembro-me sempre duma vez em que fui com febre para uma aula de Aikido e transpirei tanto que saí depois do banho limpo e curado. Por isso fiz vida normal, inclusive com uma directa que não sei se serviu para alguma coisa. 
Agora o adversário não foi na conversa, tinha inovações: mais resistente, avisado, cínico, matreiro. Primeiro não me largou do pé. Depois ganhou o controlo do combate mantendo-me a febres fraquinhas para eu cair na esparrela de que já estava quase bom e a seguir ir outra vez ao tapete, ou melhor, para a cama. Dormia, KO, à espera se passava e não passava. Doía-me o corpo quando tossia, exasperava, mas isso só tornava as coisas piores. Atirava-me abaixo e assim sucessivamente. E já estava com os mesmos remédios que tinham sido de uma absoluta eficácia da vez anterior...
Só comecei a ganhar o combate quando percebi a táctica do devagar que tenho pressa. A minha motivação tornou-se dormir, antes disso ainda aproveitava para ir limpando o cardápio de gravações do Meo, só que acabava por apenas ver as coisas mais levezinhas, não tinha estofo para mais, de leituras apenas jornais e blogues só mesmo os mais de casa. A maldita comandava o jogo: ao mínimo esforço, cama.
Anteontem, tosca e desajeitadamente consegui reagir. Ontem finalmente saí de casa. Primeiro escala no café da esquina, depois supermercado. Por fim um jantar como deve ser, uma noite bem rematada e para a próxima tratarei a Gripe com mais respeito. Ou isso é o que digo eu agora.

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Lisboísta

Dizia ela, "repara tu que há duas gerações atrás não tinhas ninguém da tua família que fosse de Lisboa, és uma mistura de Cercal, São Luis, Montargil, Quito/Silva Porto, Luanda, Sertã, Ovar, Marinha Grande...Queres mais? Eu aqui tenho ascendentes pelo menos desde o século XIX. Sou muito mais lisboeta que tu." Só lhe faltou falar da faca e alguidar ou das pedras da calçada...

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Liedson é Liedson, JEB é JEB


Jordão foi dos meus maiores ídolos de infância. Em plenos anos 80 punha-o ao lado de super-heróis e ídolos da música, TV e cinema da altura. O agora pintor resistiu intacto à prova do tempo, tanto que ainda hoje sinto a falta dele naquela equipa. O nº 11 de Jordão, e também o 9 de Manuel Fernandes, deixaram um tal vazio no Sporting que só houve uma pessoa em quase trinta anos capaz de o preencher: Liedson, pois claro. 
Se no inicio olhava para Liedson como um diminutivo do meu herói, género quando fôr grande quero ser como o Jordão, com o tempo Liedson tornou-se Liedson, perdoem-me a redundância. Liedson tornar-se Liedson significa ganhar o direito de pelo seu nome ultrapassar todos os melhores adjectivos que o classifiquem. Para um sportinguista Liedson quer dizer tudo e quer dizer Liedson. 
Liedson nunca devia sair do Sporting. Ou pelo menos nesta altura e desta maneira. É um erro histórico. Uma borrada das grandes. E borrada que é borrada tem sempre de meter mais borrada. Então não se faça a coisa por menos. Vende-se o super-craque por uma pechincha e não se contrata ninguém para o substituir, mesmo que para Liedson não haja substituição possível. 
Fazer o quê? JEB despediu-se em grande, também ele ganhou o direito de ter o seu nome acima do adjectivo daquilo é, neste caso bronco. Vamos pôr as coisas nestes termos: Liedson é Liedson,  JEB é JEB.  E devia ser banido do Sporting. Para sempre.