sábado, 29 de janeiro de 2011

Eu, Vário


Sou Vário, consigo ser vários. Eles existem e não há nada a fazer contra vários Vários. Tantos há que me conhecem e apenas sabem que existe um Vário em tantos outros Vários que sou. Nem se apercebem. Do taberneiro ao produtor de cinema, do cromo da bola ao revolucionário comunista, da dona de casa à artista multi-facetada, do blogger de direita ao anarquista do bairro. E assim sucessivamente, numa corrente interminável de Vários. Todos pensam que sou o Vário mais de casa deles. Ou tendem a pensar, ou querem pensar, não sei. Nem penso que tenha culpa, eu não finjo - todos esses vários são autênticos, emanam do mesmo Vário. São parte de mim e de mais ninguém. Além do mais, gosto muito dos meus amigos. 
Todos esses Vários têm uma constante. Um ponto onde as ramificações e encruzilhadas se encontram. Esse ponto, essa união, essa única constante entre todos os Vários, é o Vário que escreve. Ele é o centro, o chefe, o comando da acção, o nucleu criador de Vários. E os vários Vários acabam por ser o combustível, a lenha e o carvão para o núcleo criador poder carburar, fazer a combustão. 
É uma coincidência feliz, mas nenhum Vário finge, nem sequer tenta o cínismo. Todos eles lutam de verdade pela variedade de ser Vário. Ou vice-versa. 

quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Gram Parsons


Foi Gram Parsons que me fez ouvir country pela primeira vez, mais especificamente o country-rock-folk que ele inventou. Muito fora de toda a ganga pirosa que enche o género, e mantém longe pelo menos a maioria das pessoas que conheço, que pelos vistos tem piroseiras mais finas e "aceitáveis" que agora não vêm agora ao caso.
Estávamos em plenos anos 90, altura da vida em que realmente descobria bandas, ia a concertos, frequentava a Torpedo e a Carbono, e comprava o NME e o Melody Maker. Aí Evan Dando, J Mascis dos Dinosaur Jr, ou Peter Buck dos REM, entre muitos outros, incansavelmente falavam do fenómeno Gram Parsons, que como Nick Drake ou os Velvets, se tornara uma moda póstuma. Depois inevitavelmente surgia Keith Richards a fazer a ligação para "Exile On Main Street", ou "Sticky Fingers", com as histórias de  Gram Parsons a pairarem sobre o que de melhor fizeram os Rolling Stones. É facil constatar que eram grandes amigos os dois, influenciavam-se mutuamente, e que Gram Parsons foi mais um a ficar pelo caminho do sobre-humano Richards.
Foi portanto um acaso perfeito uma viagem que o meu pai fez aos states de onde me trouxe um CD 2 em 1 de toda a discografia a solo do autor: GP e Grievous Angel. Mais tarde ainda me chegou ás mãos uma compilação do trabalho de Parsons com as suas bandas, entre as quais os Byrds e os Flying Burrito Brothers. Tudo ao nível do génio que morreu não aos 27 mas aos 26 anos, em pleno deserto, sob um cocktail de drogas e tequilla. Um tipo cheio de alma e tormento, da força dos campos intermináveis da américa profunda, talvez essa a alma do country. É para lá que viajo ao ouvir Gram Parsons, a sua música transporta-nos, literalmente. E é tão genuínamente pura que nunca me cansei de ouvi-la. 

domingo, 16 de janeiro de 2011

E ainda nem estava a meio...



O Paulo Bento forever foi o menos. Quando a esmola é tanta o pobre desconfia, quando a inaptidão é tanta, e tão prenunciada, também se desconfia. Nem tudo deve ter sido incompetência ou burrice. Coisa que JEB não tinha quando foi vice-presidente para o futebol e fomos campeões, ou quando chegou a um dos topos do Banco Santander. A ver vamos (n)o futuro. Se fingiu de parvo ou se subitamente emparveceu. 
A mim não me apetece, não tenho tempo, nem sequer paciência para andar aqui a fazer conjecturas político-conspirativas. Quanto mais não seja porque até os abutres rodeiam o clube precisam que o Sporting dê dinheiro, muito daquilo é deles, infelizmente. E José Eduardo Bettencourt não dava a ganhar a ninguém. 
A verdade tem um qualquer mecanismo de revelação, existem muitas teorias acerca disso. A minha preferida é a do azeite. Um clube de futebol não é algo assim tão complexo para que a dita leve uma eternidade a vir ao de cima. Até lá, fica já carimbado o pior presidente da história do Sporting Clube de Portugal. Se se tirasse aqui o "Sporting Clube de" provavelmente não andaria muito longe de acertar num dos piores, vá lá, de todos os clubes de Portugal. Enfim, comecemos pelo mais importante, os adeptos:
 - Chamou a uns contestatários de terroristas e de Herry Batassunas cá do sítio. Em plena conferência de imprensa, com requintes de Verão Quente.
 - Ameaçou um sócio de expulsão. Um míudo de 18 anos.
 - Mandou calar outro, no aeroporto de Lisboa, "ta calado pá", disse em frente às câmaras de TV.
Vamos agora aos tesourinhos deprimentes do futebol.
 - contratou inesquecíveis inaptos como Caicedo ou Angulo, não havia dinheiro. Quando passou a haver, estoirou quase tudo - 6,5 milhões de euros  - em Pongolle.
 - Não conseguiu ter escolhas melhores para treinador do que Carvalhal e Paulo Sérgio. O último, como o próprio sabia, ainda sem experiência nem bagagem. Mandar é difícil, pois é. 
- Escolheu antes Costinha para liderar todo o futebol, outro sem experiência, bagagem, nível e cultura de clube. Um auto-denominado sportinguista, que no passado apertou a genitália para a tribuna onde estava o ex-presidente do Sporting, Filipe Soares Franco. Ele, que no auge da carreira disse que em Portugal só jogava no FC Porto. Eu lembro-me porque li. E nenhum jornalista fez o seu trabalho quando Costinha andava a dar lições de sportinguismo a toda a gente, inclusive a um ex-presidente. Adiante.
- Vendeu o capitão de equipa a um rival histórico e directo. Foi por metade do preço. João Moutinho, formado no clube e titular indiscutível há cinco anos. Como forma de defesa chamou-o de maçã podre, conseguindo assim virar a fúria dos adeptos para o próprio jogador. Mas quando a mesma "maçã podre" estava prestes a regressar ao seu antigo estádio, prontificou-se logo em dizer que Moutinho era um grande profissional. O respeitinho é muito bonito, excepto quando se tem de encarar as acções próprias, não é José Eduardo?
Já nem vou entrar no assunto Sá Pinto, nem na forma desumana como (não) apresentou e despachou Carvalhal, na ostracização de figuras do clube, ou de um craque como Izmailov que antes era exemplo de profissionalismo, dedicação e empenho. De resto, as calças de ganga que se danem. Demais é demais. 
Para concluir, como muito de vós sabem, José Eduardo Bettencourt foi o primeiro presidente profissional do Sporting. Ganhava mais de vinte mil euros por mês, tinha o dia do clube por sua conta. Nos ultimos tempos andava com um ar cansado, envelhecido. Ontem na conferência de imprensa já parecia mais o JEB de antigamente. Mais jovem, rejuvenescido até. Seja.
Nem o Sporting merece Bettencourt, nem Bettencourt merece os 90% de votos que o elegeram. Venha daí o mecanismo do azeite. Muita coisa tem de vir ao de cima. 

quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

Malangatana



Quando tinha 4/5 anos passava longas tardes de fim de semana em casa da minha tia Luísa, ao Lumiar. Havia sempre muita gente em conversas supostamente entusiasmantes que para mim não passavam de secas intermináveis. Fazia muitas birras para ir para casa, mas quando ficava sossegado, lembro-me de não tirar os olhos de um enorme quadro de Malangatana que preenchia uma parede inteira da sala de estar. Aquela pintura marcava toda a casa, e ainda hoje é assunto de conversas. É que Malangatana enfeitiça, no bom sentido, é claro. E enfeitiçará sempre. Que descanse em paz.  

segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

Badi-Da

Dormi numa câmara de sono, tal era o silêncio. Ao acordar já via a barragem. Com o dia por minha conta e o meu cérebro a fazer de jukebox automática com o Badi-Da de Fred Neil, versão Mark Lanegan: "I get so tired Hanging round this town, Oh this old city life, Sure brings a fella down ba da da da da da...". Nada de ressaca. Muitos comes deram para aguentar não assim tantos bebes. Saí à rua. A vila prazenteira, um café com boa bica, gente, algum comércio aberto. 
Café bebido, fui caminho errante como que a descer para a barragem. Passada uma clássica trupe de velhos a dizerem boa tarde, uns sentados e outros de pé sob três mesas de cartas, são quatro ruas sem vivalma. Sinto que os meus passos urbano-stressados chocam com o silêncio remisturado pelo cantar dos pássaros. Sobre a igreja matriz, sentado em frente ao pelourinho, reparo melhor no porquê do meu coração bater tanto. De aqui chegado, sentir-me carregado de electricidade. Para descarregar baterias. E deixar-me ficar, momentos sem horas. Todo ouvidos para a infindável orquestra da natureza que orquestra. Depois a cidade vinga-se.  

sábado, 1 de janeiro de 2011

Ano novo, burro velho



Três primeiras notícias do Jornal da Noite da SIC. Cito de memória.


1 - Um pescador morre afogado na Póvoa de Varzim. 
2 - Os trabalhadores do Bingo não se entendem.
3 - Incêndio por causa de umas acendalhas na Amadora. Diz que é na igreja paroquial. 


Hoje, 1-1-11, foram estas as minhas primeiras notícias, fora internet, como é óbvio. Aqui com quatro canais, podia ter sintonizado algum dos outros, mas quem me garante que seria diferente?




Adenda: são 20h45 e ainda estamos com a passagem de ano do rectangulozinho. Do mal o menos. Registo para memória futura.