terça-feira, 22 de novembro de 2011

Carlos


A partir da vida imaginada do mais famoso terrorista das décadas de 70/80, Carlos de Olivier Assayas procura dar-nos a noção dos vários tempos, modos e espaços, mesclados com a crueza e a urgência da acção letal. Somos transportados em países, cidades, ambientes e pessoas, pontos de passagem de um terrorismo a larga escala secundado por aeroportos, alfandegas, hotéis, campos de treino ou esconderijos, tudo locais onde as línguas faladas se misturam como produtos dum mesmo mercado. A escolha do actor Edgar Martinez encaixa aqui que nem uma luva – também ele é venezuelano, também ele teve um percurso de vida que o pôs a falar fluentemente várias línguas, cinco: espanhol, francês, inglês, alemão e italiano. 
O real e verdadeiro Carlos, o Chacal, de nome Ilich Ramírez Sánchez, a cumprir pena de prisão perpétua em França, já veio dizer que o filme é uma "manipulação, uma mentira voluntária". Mas não será essa mesma a forma mais correcta de recriar uma vida que trabalhou o seu mito também em manipulações e mentiras voluntárias? Onde uns o apontam como um combatente revolucionário e outros como um terrorista sanguinário. Como poderemos nós alguma vez ter toda a certeza? Fiquemos pelos sonhos, vencidos, e pelo irremediável, padrinho da incerteza e do desconhecimento. E pelo filme, que é muito bom.