sexta-feira, 14 de outubro de 2011

Lisboeta Alentejano Angolano das Beiras


Tenho essa coisa de me sentir às vezes estranho na minha cidade. Costumo guardar chatices num compartimento, com todos os cuidados, as complicações maiores quero-as metidas numa caixa que acaba invariavelmente a rebentar pelas costuras ameaçando atacar um dia enquanto durmo. Costumo dizer a uma amiga: “não compliques, as coisas já são suficientemente complicadas”, ao que ela traduz suficientemente por excessivamente e as minhas palavras acabam desvalorizadas como a moeda do Zimbabwe.
Sinto-me estranho pela secura de quem prefere ser um retrato da “Canção de Lisboa”. Tentando amiúde arranjar explicações, a ascendência não me deixa mentir: lisboeta de segunda geração porque só a mãe é daqui, os avós maternos nasceram no Cercal e São Luis respectivamente - com ascendentes perdidos séculos adentro - meu pai nasceu em Angola, minha avó idem, avô paterno de Ovar, bisavós paternos da Sertã... 
Quando não estou frio sou bem capaz de misturar calor africano com tá-se bem alentejano.  Essa coisa do amor desmedido a Lisboa é que não me funciona. Gosto da cidade sim, identifico-me até com o rapaz de Lisboa de Jorge Silva Melo. Mas existem muitos mas. Além de Lisboa ser muito benfiquista e eu sou do Sporting, de Portugal.