sábado, 24 de setembro de 2011

Praia Autocarro

Naquele dia na praia estavam dezenas de pessoas em grupos e grupinhos e eu sozinho a ler no meio do areal que era grande. A tempos e às vezes ao mesmo tempo punham-se a olhar-me com caras de não compreender. Eu voltava ao livro. A páginas tantas reparei que havia um problema com tanto olhar, talvez fosse a leitura, talvez fosse eu estar ali, sem ninguém ao lado, a única pessoa sozinha naquela praia, e isso começava a incomodar não por me doerem as costas ou pelo livro ser o "Fome" de Knut Hamsun. Todos eles ali, cheios de superioridades mas sem sequer um "Correio da Manhã" para ler a completarem-se em monossílabos e jogos de cartas e de bola, isto a minoria, porque a maioria olhava para o vazio do horizonte sem qualquer vislumbre da beleza daquele mar, quais versões relaxadas daqueles que apanho no autocarro cheio a carregarem suas vidas em costas desistidas e cansadas. Em quantas vejo eu que nunca tiveram a coragem de uma caminhada a pé no fresco duma tarde, que não inventaram uma alegria com a vida, nem sequer ao menos se revoltaram porque seria tão difícil como serem olhadas na praia por todos os que não lêem uma linha.