quarta-feira, 6 de julho de 2011

Ler a Ler


“Como entre bancos e clientes, a relação entre autor e leitor é uma relação de confiança: todo o edifício se desmorona no momento em que uma pessoa coloca a hipótese de aquilo ser tudo um enorme embuste, e de a gerência saber entoar a cantiguinha da tabuada, mas não saber fazer as contas.”

Rogério Casanova


“A narração e o enredo são raros em Portugal, porque implicam a colocação das personagens num espaço concreto, num cenário social, cultural e político. Ou seja o enredo implica um certo retrato da realidade. E esse é precisamente o problema: a ficção portuguesa tem alergia á realidade portuguesa. É como se os portugueses fossem indignos de aparecer na prosa supina dos nossos oráculos literários. Lemos romances portugueses, mas não vemos lá dentro os portugueses, não sentimos lá dentro o cheiro e o pó do Portugal de hoje ou dos Portugais do passado.”

Henrique Raposo


Os dois artigos onde se encontram as frases acima citadas talvez valham os 5€ da revista, Rogério Casanova brilhante a arrasar Jack Kerouac e Henrique Raposo a maravilhar-se tão bem com os livros de Rentes de Carvalho. Passando isso não há ali nada que verdadeiramente entusiasme, que nos leve nalguma direcção, que tente ao menos justificar os mil escudos da moeda antiga. Fica-se com a ideia que faltam craques á revista, mas a verdade é que há lá uns quantos que parecem estar em piloto automático a fazer um número que fazem melhor cá fora. Aproveitando a deixa futebolística, esta LER parece um bocado Casanova e mais 10. Tem meses. O mês passado, por exemplo, foi muito melhor que este.