sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

2011

Meu individualismo tem um lado virado para os outros, o outro é só para mim. Na verdade, preciso muito respirar, é biológico; preciso de perspectiva, é físico. Terei de treinar mais a acrobacia, o jogo de cintura, a escalada da montanha, a respiração pausada. 
Agora vou ali até Montargil passar o ano e apanhar ar. 
Desejo a todos um bom 2011. Inspirem bem. É meio caminho. 

Separados à nascensa

                                                                                                                         

Roberto Palomar, jornalista redactor chefe da Marca.


John Gotti Jr. gangster ex-chefe da família Gambino.


O primeiro ainda não usa óculos, de resto, onde é que eles se haviam de encontrar...

Totobola



Depois deste revoltante e complicado 2010, temos prontinho um ameaçador 2011. Todos falamos em crise, é o dado inevitável, as cartas sobre mesa. É o que já está, dizem que vai piorar, não se sabe até quando. À falta de melhoras, as apostas para 2011 ramificam-se em três partes. Tipo totobola: 1 x 2.

1 - A mesmisse, melhor representada neste post de Henrique Fialho. Tão solidamente previsível que até enerva. Eu acho que me vou divertir à grande quando for para conferir. 
2 - O tumulto. Pega numa Europa revoltada e a fazer barulho. Fala em explosão iminente. Em pessoas fartas que culpam os políticos e os banqueiros pelo estado a que isto chegou. Fala no perigo das multidões, e no que aconteceu na Bósnia
X - Um misto das duas. Mesmisse com solavancos de revolta. Tudo empatado pois. 

A chave 1 é de longe a que tem mais hipóteses, joga em casa: no país dos brandos costumes, das falinhas mansas, das conveniências, do "parece mal" e ainda por cima, tem consigo a tradição cinquentenária das saudades da crise

quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

Miyamoto Musashi





Voar entre galhos é um instinto de defesa. Sólido elegante implacável, eis o aço. Forte ágil compacto, imóvel resistente a furacões e tremores de terra. Também à prova de água e da crueldade silenciosa que se apodera do silêncio da noite dos telhados. O aço, que da minúcia dos anos, forma o sabre do samurai. No entanto foi o vento sobre os galhos a aprendizagem do maior guerreiro da História do Japão. O sabre, esse, era de madeira.

quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Natal


Desde que o Natal sirva para as pessoas estarem juntas, reverem-se, matarem saudades, partilharem histórias, aconchegarem-se no quentinho, conversarem muito, comerem e beberem melhor. Fazerem uma paragem, uma pausa, poderem -  nem que apenas de raspão - sentir a paz das coisas essenciais, com o acrescento das crianças adorarem e sentirem-se únicas, então o Natal vale a pena. 
Claro que grande parte do festim é feito de hipocrisias de quem se detesta enquanto deseja Boas Festas, de conversas estéreis, de secas e conveniências de praxe, do ter de ser, do ter de mostrar... E o pior de tudo, o consumismo desenfreado que nada tem de natalício. Mas até aí o problema está nas pessoas, não culpem o Natal. 

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Wikileaks



Quando, à tua beira, houver um perseguido
e o escárnio se abater sobre o que ele pensa
e o mundo inteiro o perseguir mentindo
uma mentira maior que a dessa ideia, 
defende-a como tua antes que o mundo
esmague em si próprio a chama em que se ateia.

Jorge de Sena

domingo, 12 de dezembro de 2010

Autonomias




Da recente polémica sobre os Açores tenho mais dúvidas que opinião formada. Parece-me óbvio, claro, cristalino, que deva haver um mínimo de equidade quando se trata ir ao bolso do contribuinte. Questão de bom senso. Mas se desato a pensar naquilo já vi, transformo logo as minhas certezas em reservas. Conheço os Açores, onde estive cinco vezes. Devo dizer que nunca conheci terra tão esquecida e ignorada pelo seu próprio país. Só indo mesmo lá - local do mais belo de tudo o que existe - se pode ter a real noção dos custos da insularidade, do isolamento que é estar em minúsculas ilhas a meio do oceano, com perspectivas de voos a 250 euros para Lisboa; ou entre ilhas, a um "módico" preço de 100 euros percurso. Preço médio, vai aumentando à medida que os lugares se vendem. Dos barcos, não sei preços nem frequência. Mas levam tempo. Tirando o canal entre o Faial e o Pico, que é relativamente rápido, nos outros percursos perde-se o dia. Ou os dias.
Daí talvez se compreenda que existam palavras exclusivas para cada ilha, e sotaques distintos. Ou que por exemplo um terceirense tenha menos de temperamento de um habitante de São Miguel, que um tripeiro de um alfacinha, sem ponta de exagero. De resto, a autonomia do arquipélago não é tão perfeita como se quer pintar. Ou será uma autonomia um pouco para o maquilhado. O açoreano queixa-se muito da incompreensão, da morosidade nas decisões, das burocracias, do ter tudo de passar por Lisboa. De um país que acha que lá está sempre mau tempo, e que dos Açores apenas se lembra nas Agências de Viagem, nos noticiários de catástrofes, ou quando a porca torce o rabo e Cavaco se preocupa com o novo Estatuto dos Açores, ou quando o seu presidente eleito - com segundas intenções ou não -  se lembra de dizer meus amigos as coisas não são bem assim. Depois é ver o mundo inteiro a acusá-los de falta de solidariedade. Ou coisas piores.
Eu pessoalmente gosto muito de ver as peças do jogo encaixarem umas nas outras. Alberto João Jardim a não achar muita graça à inesperada concorrência de Carlos César, algo de tão previsível quanto comovedor. Pudera, ele, o mais gigante sorvedouro do pobre Estado português; ele, o mais estridente demagogo da História da Terceira Republica; ele, o maior populista e anti-democrata de toda a nossa Democracia. Ele, logo ele, há de querer aqui correr riscos? Negócios são negócios, um cêntimo é um cêntimo (como diria Joe Berardo, outro "benemérito" madeirense), portanto, toca de se pôr ao lado do "Continente" (leia-se dinheiro) e dizer mata para esfolar mais um bocadinho os vizinhos da sua tão cara "autonomia". Também é bom ver lembrado que os açoreanos são tão portugueses como nós, os continentais, é que já houve vezes em que me esqueci disso... 

102



O ano passado registei 101. Mais os dois filmes por ano. Nunca tem falhado. Para o ano serão 103. E possivelmente os tais dois filmes. Nunca tem falhado. Parabéns Manoel de Oliveira. Nunca tem falhado.

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Questões de regime



Apanhando a deixa, devo dizer que me faz bem ver "No Reservations", faz-me mesmo bem ver aquilo. Faz-me bem por todo aquele desassombro, inteligência e adrenalina que me enche as medidas para os píncaros da euforia. Um pouco como ver "Good Fellas", ler um livro de Bukowski, ouvir o "Exile On Main Street" ou ver o meu Sporting esmagar. E não há médico que possa receitar estas coisas. 

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Notas de um Facebook


O Facebook pegou de estaca por ser a rede social que melhor (se) encaixa na vida web 2.0. Daí ergueu uma fortuna colossal, um império incontestável, e o comando do futuro para as próximas décadas. Agora, com a nova e detestável configuração mudam-se mais uma vez as regras do jogo. As pessoas bem podem protestar, piar alto e mandar vir, que depois, como dizia o outro, "habituem-se". Para mim ficou mais piroso, mais ligado à trivialidadezinha, à lamechice dos "interesses comuns" e conversas do passado; a fotos e recuerdos escarrapachados e sem escape possível;  e à vida profissional também, para impedir que redes como o Linkedin sequer pensem em crescer, quanto mais em upgrades "desagradáveis"... É tramado. 
Mas o que causa mais espécie não é isso. Devo aqui dizer que sou mais adepto do Facebook dos desconhecidos - gente interessante que a brincar anda aqui a sério e vice-versa  - ter aquilo só para família, amigos e conhecidos de vista roça o tédio, não que elas e eles sejam entendiantes, pelo contrário, mas onde anda o sal? Voltando ao assunto, o que me causa mais espécie ali é também uma das coisas que me causa mais espécie cá fora: o mau fingimento, o de quem não sabe mas quer à força mostrar que domina, então se o assunto marca a agenda, o que tem de ser tem muita força, para parecer bem... Claro que isso pede certos requintes. E depois há sempre aqueles dispositivos tocantes do sujeito que tem tudo pronto e programado para dizer A) quando é C) e arranjar uma alternativa a B1) se  Beltrano disser Q), ou então fingir que não sabe o J) e depois se Sicrano disser o Z) vai dar um ar de surpresa e exclamar "ai é não sabia". 
No Facebook existe uma maior mediação do que cá fora, como é óbvio. Mas de vez em quando oferece-me espectáculos assim, comoventes. Foi o que aconteceu ontem, ao comentar um dos assuntos políticos em voga e que não vem ao caso. Dei um comentário espontâneo de camaradagem, praticamente esquecido pouco depois, até daí a três horas me ser lembrado de consultar o meu e-mail. Estava lá a resposta. E que resposta: comentário longo, cheio de meandros, de cálculos coiso e tal, clichés meia tijela, barroquices numa de soar bem, não fossem borrifar aquilo tudo. E eu pergunto-me: para quê? Ou pior, para quem? Era um amigo da vida real. Não me acho mau nem mesquinho mas a pretensão mal amanhada ultrapassa-me. Apeteceu-me logo pegar o telemóvel e dizer-lhe ouve lá qual é a tua, mas vendo melhor agora, acho que fiz bem em deixá-lo a achar-se, nas conformidades...
Voltando atrás, começo por vezes a preferir amigos virtuais reais a amigos reais virtuais. É que tendem a ser mais autênticos do que muitos que a geografia e a vidinha deram a conhecer... 

sábado, 4 de dezembro de 2010

Nada é nada ainda



Andei a adiar a vida e a confiar na sorte. Na sorte da segurança. Uma gaiola bonita, aberta, com várias perspectivas de vista. E uma porta para sair, apanhar ar e regressar. Ponto de apoio, de sobrevivências, do gozo de viver, dos livros, dos PC's, filmes, de estaminés, de sofá. Mas ainda assim, uma metáfora de uma gaiola. O medo do falhanço, do aniquilamento, do logro. De animais de rapina maiores ou talvez não. A falta de confiança, o excesso de confiança, o regresso à gaiola. Depois o tempo urge o tempo. E tudo continua na mesma: nada parece o que é.
Penso num poema ZEN onde se fala na montanha que deixa de ser montanha para no final voltar a ser "a montanha". Procuro esse poema. Não o encontro. Talvez o traga o tempo, porque na verdade não há montanha ainda. Ainda. Ou talvez nunca. A minha Lisboa é que é ainda e cada vez a Lisboa dos "serões habituais, as conversas sempre iguais, os horóscopos e os signos ascendentes...": campo de batalha, cidade de pouco e de nada; gare de partidas e chegadas onde se pode ver o rio e beber uma cerveja...
Agora estou na varanda e por cima da ponte o céu combina com um avião em rota de aterragem. O Tejo segue o seu curso. Ainda nada é nada ainda.

Impermeável


sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Notícias do saque



Pedro Lains: "Tributar esses dividendos em 2010 dá desconfiança aos mercados? Mas estamos onde? E isto não é uma crise com cortes do rendimento disponível que deverão chegar, em média, talvez a uns 4-5% do mesmo? Vivemos em que época? Claro que o PS e o governo estão reféns de quem estão. Assim como o PSD. Quando se vão libertar? Precisam das empresas para financiar as campanhas? Não, felizmente estamos na Europa. Então precisam delas para quê? Respeitinho a mais é negativo, mostra coisas menos positivas. Ao mesmo tempo não vão aumentar o salário mínimo? Isto não é um debate sobre economia, é sobre decência."

Eduardo Pitta: "Obama mudou alguma coisa? Timothy Geithner, secretário do Tesouro, não dispensa o conselho de Henry Paulson e outros tenores da Goldman Sachs que cavaram o buraco. Ben Bernanke continua presidente da Reserva Federal. Alan Greenspan goza uma reforma dourada nos Hamptons. Ao pé deles, Madoff é um carteirista do metro."

Henrique Fialho: "O trabalho salva, diziam os nazis aos judeus em campo de concentração. O trabalho salva, repetem os governos aos seus escravos de trazer por casa em campo de centralização. E as vozes fazem-se ouvir da sua cavernosa dívida, têm um compromisso com a saúde dos mercados, não necessariamente com as pessoas, porque isso de viver e de se estar vivo é secundário, o que importa é manter os mercados saudáveis, evitar rupturas sistémicas, garantir os stocks."

Tiago Mota Saraiva: "Os mesmos deputados que chumbaram a proposta de tributação dos dividendos das grandes empresas por rejeitarem alterações de tributação a meio do ano fiscal, preparam-se para, depois de o terem utilizado como bandeira eleitoral, baixar unilateralmente o salário mínimo contratualizado para 2011."

Fernando Martins: "Por causa disto, mas podiam ser muitas outras coisas, estou sempre a lembrar-me que há uma direita portuguesa (e também uma esquerda moderna) que gosta de ser sistematicamente encornada pelos chamados, umas vezes bem outras mal, "grandes interesses económicos".

Vasco Lobo XavierSão tantas as empresas públicas que gravitam na órbita do Governo que eu me pergunto: e o Governo, serve para quê?"


Foto tirada daqui.



Hüsker Düplo



quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

O Deus de Norman Mailer